Foto: Ana Larissa
Eu tinha me programado para
escrever sobre outra peça, até saber que o espetáculo “Manhã” estava sendo
atacado pelo discurso de ódio de pessoas que, em pleno século XXI, ainda não
entenderam o que é respeito, pluralidade, diversidade, individualidade e
liberdade. Quis o destino que eu presenciasse a última apresentação. A despedida. No dia de aniversário de Plínio Marcos, 29 de setembro, no teatro
que leva seu nome, no Complexo da Funarte, casa dos artistas que, por ora, está
sendo gerida por pessoas antiartistas, anticultura, enfim, antipovo.
Fundado em 1994 pelo ator,
diretor e dramaturgo André Garcia, o Grupo Domo realiza pesquisas no teatro
autoral e reflexivo. Uma arte renovada como cada manhã que surge, sem deixar de
trazer experiências de outrora.
Foto: Flora Negri
“Manhã” é uma peça sobre seres
humanos. Com a urgência da necessidade de ser feliz, de buscar seu espaço, de ter
liberdade de escolhas, de viver, de ter privacidade. De tão humana, a peça
acolhe os espectadores de uma forma surpreendente, cativando o público e
fazendo do teatro um espaço de comunhão, mostrando que o amor é um tema universal.
Foto: Edmir Amanajás
Contando a história de uma
relação em crise, “Manhã” se passa em uma única noite. Quando alguém toma
coragem e desejando dar um basta na situação, dá um ultimato para o outro decidir
antes que amanheça. Antes do maior espetáculo da terra, uma chuva de meteoros.
Foto: Edmir Amanajás
A peça apresenta uma reflexão bem
humorada, espirituosa e íntegra sobre a união homoafetiva, mostrando a luta
pelo respeito e representatividade, a conquista do espaço e o enfrentamento ao
preconceito e à discriminação, tanto socialmente, como internamente.
Foto: Milla Russi
Embora o beijo fosse interrompido
por buzinas. Teve beijo SIM. Assim como teve cena de sexo entre dois homens nus,
SIM. E tudo isso é importante, SIM. Para mostrar que o amor, o afeto e o sexo
são universais e precisam ser representados nas artes, na cultura, no cotidiano.
As pessoas não vão deixar de existir, nem de viver o que desejam por que alguns
não querem. Gente existe para ser feliz!!!
Foto: Milla Russi
Parabéns ao Diretor, Ator e
Dramaturgo André Garcia, pela peça, atuação, coragem, força e leveza. Seu discurso
de encerramento foi emocionante. A arte sempre vai vencer!
Parabéns ao ator Bruno Estrela
pela entrega, vontade e talento.
Interessante a solução cênica utilizando
personagens sombras e coringas inspiradas na figura do koken do Teatro Noh japonês, interpretadas pelos atores Leudo Lima
e Guilherme Victor, que contribuíram para o desenvolvimento das cenas, passando
de simples ajudantes de cena a personagens vivos e fundamentais.
Foto: Milla Russi
Foto: Edmir Amanajás
Por fim, uma frase do aniversariante
da noite: “A POESIA, A MAGIA E A ARTE ... AS GRANDES SABEDORIAS NÃO PODEM
HABITAR CORAÇÕES MEDROSOS”.