Um show de drag kings: Enzo DMX,
Clint Esparradão, Walter Waleiro e Little Big. Quatro atrizes se revezando em
27 personagens, para nos contar a parábola teatral escrita por Brecht em 1941.
A ascensão violenta, ditatorial e sangrenta de um gangster que veio do nada
para tomar o poder em meio a uma crise. Essa estória poderia ser sobre gangs de
Chicago, mas poderia também ser de um miliciano brasileiro, de um juiz ladrão, de Hitler ou
qualquer outro projeto de ditadura. Gente que cresce em meio à crise jurando
combater a corrupção.
O grupo liquidificador, com sua
raiz performática, apresenta sua crítica política ácida e divertida sobre os
tempos que estamos vivendo neste país, possibilitando refletir sobre os temas
mais atuais e urgentes.
A subversão do patriarcado pelas
atrizes nos faz pensar como são importantes a emancipação feminina, o respeito e a
liberdade.
O cenário composto apenas por sacos
de lixo e placas penduradas com nomes nos permite visualizar a cidade de
Chicago e nos sentir dentro das cenas, em um exercício que representa um teatro
verdadeiro no qual a criatividade tem preponderância sobre o dinheiro.
O que parece inicialmente ser uma
grande brincadeira animada e pueril vai se transformando em uma peça com
camadas e mais camadas de jogos teatrais e interpretações profissionais das
atrizes, maravilhosxs Drag Kings, que nos fazem refletir e questionar, ter medo
e lamentar, mas também buscar algo maior, lutar.
Destaque para o ímpeto da
juventude das atrizes, levando a crer que o futuro do nosso teatro vai muito
bem obrigado: Ana Quintas (Enzo DMX) com sua vitalidade e espontaneidade mostra
que a força do palco vem do amor ao teatro. Fernanda Alpino (Clint Esparradão)
estrela o gangster Arturo Ui com mãos de ferro, impondo toda a canalhice,
covardia e estupidez dos vilões da vida real. Larissa Souza (Walter Waleiro) dá
um show de versatilidade, indo personagens com estilos antagônicos de um
segundo a outro com uma mudança sútil de expressão corporal. Nininha
Albuquerque (Little Big) me deixou muito incomodado com a maldade de seu
personagem principal, um capataz de Arturo Ui que segue ordens com perversidade.
A Participação especial de Adriana Lodi é literalmente uma aula de interpretação,
como um professor de teatro, tentando ensinar Arturo Ui.
Parabéns ao Espaço Cultural
Renato Russo, por ser um dos templos de resistência do teatro candango neste
tempo de milicianos, Chicago boys e censura. A arte sempre vai vencer!
Fotos de Nina Quintana
Fotos de Nina Quintana
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