domingo, 15 de setembro de 2019

Por que não vivemos? - Companhia Brasileira de Teatro - CCBB DF



A primeira peça de Tchekhov, escrita em 1878, esquecida, guardada inacabada em um cofre de um banco em Moscou até ser encontrada em 1920. Quase 100 anos separando sua redescoberta da montagem da Companhia Brasileira de Teatro. Tão atual que se ninguém falasse a respeito, jamais desconfiariam de ter sido escrita há tanto tempo. Tempo este que é uma das matérias primas de um dos maiores contistas e dramaturgos de todos os tempos.

O tempo é trabalhado em cena de diversas maneiras, desde a simples marcação de uma bola batendo na raquete de frescobol, na repetição de uma cena diversas vezes. Um tempo que não passa, mas ao mesmo tempo voa.


A ocupação não só do palco, mas de todo espaço teatral é feita com maestria. Com atores dividindo assentos com o público e o público ocupando lugares no palco. A quarta parede foi estilhaçada em nome da interatividade. Sensacional.

O tédio das personagens e as questões existenciais próprias do autor estão presentes na peça. Fazendo o espectador pensar, refletir, mas jamais se entediar. Por diversas vezes nos vemos ali neles. Por que não vivemos? Como poderia ter sido diferente?



A iluminação e o áudio visual são sincronizados com a interpretação dos atores de uma forma perfeitamente orgânica. Trunfo do diretor Márcio Abreu.

Há um equilíbrio entre as personagens, tendo todas de alguma forma importância fundamental à peça. Impressiona a presença de palco e força cênica de Rodrigo dos Santos, que interpreta Platonov, o herói e anti héroi, sobretudo humano, como todos nós. Camila Pitanga com sua doçura, talento e carisma interpreta, de forma generosa, a viúva Ana, contribuindo para que os demais atores brilhem como ela, em um trabalho de equipe, de time. Kauê Persona dá seu toque de comédia, mas indo no mais fundo drama quando necessário, interpretando o ingênuo e bonachão Serguei. Josi Lopes interpreta Sofia, com uma personalidade fortíssima e uma voz que não dá para explicar o quão incrível, só ouvindo ao vivo. Edson Rocha como o “cidadão de bem” Porfírio está impagável. Cris Larin, Rodrigo Bolzan e Rodrigo Ferrarini completam de forma magistral o elenco.



Resultado final: 5 minutos de palmas, após 2 atos que ao todo possuem 150 minutos. É um feito. Uma aposta que deu muito certo, provando que o Teatro, embora os ignorantes tentem ignorá-lo, censurá-lo, sempre vai estar vivo, pulsante e de pé enquanto existirem artistas e plateia!!!



Obrigado pelo Reveillon antecipado e pela cerveja. Um projeto desse precisa ser celebrado.

CCBB DF
12 a 29 setembro, 2019
Quinta a domingo, às 19:30h

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