sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Édipo - Companhia do Chapitô - Portugal - Caixa Cultural Brasília - DF

Local: Caixa Cultural Brasília – Brasília/DF - Brasil
Dia: 12/09/2014



Os Três de Tebas

Um grupo de Teatro Além Mar, uma oportunidade única de assistir a uma montagem europeia. Uma curiosidade quase infantil de observar atores atuando com sotaque luso. No  imaginário de um brasileiro seria algo, no mínimo engraçado, estranho. Antes de assistir qualquer peça, por opção, não leio nada sobre ela, nem procuro  conhecer o grupo. Gosto de me surpreender. 



Em Édipo, somada a grande curiosidade em  relação ao Teatro Português, minha expectativa era apenas assistir uma boa peça. A peça conta a clássica tragédia grega “Édipo o Rei”, de Sófocles. O Teatro grego, base  das Artes Cênicas, em sua origem contava com um elenco enorme, com cenários múltiplos e  gigantescos. Sabia que não seria uma peça suntuosa (nem gosto), mas quando cheguei ao espaço  cênico não havia cenário, apenas a caixa cênica com as três paredes cobertas de cortinas negras. 



Ao iniciar a peça, somos atraídos ao jeito próprio Chapitô de encenar um clássico. Em  poucos minutos me esqueço do sotaque, das palavras diferentes. A peça atrai de uma forma tão  interessante que, convidado, o espectador se entrega totalmente.  Apenas três atores (Jorge Cruz, Marta Cerqueira e Tiago Viegas), todo universo de  Édipo o Rei contido nas vozes e nos corpos deles. Tudo isso sem simplificação, sem economia.  A multiplicação dos atores através de diversos exercícios cênicos do mais alto nível técnico e  artístico. A criatividade sem fim da Companhia. 



Neste contexto, sentado da poltrona fui à Tebas, à Corinto, vi o oráculo de Delfos, vi um  bebê nascer por parto normal, ter seus pés amarrados, quebrados, levado ao cume da montanha,  vi pastores, reis, rainhas, a Esfinge com seu enigma indecifrável, vi um homem matar quatro  cavaleiros, vi cavalos. Todas as personagens que compõe o clássico estavam lá. Vi até ventar. Vi uma ovelha comer capim. Até o numeroso coro grego estava lá. O Édipo de Chapitô é o mais humano de todos os heróis. Um verdadeiro anti-herói, feito da mesma medida que nós, pessoas, somos. Ri bastante, me emocionei, refleti, desafiei a esfinge...viva o Rico Teatro Pobre idealizado por Grotowski, onde o menos é muito mais, mais do que se pode imaginar. Aqueles  70 minutos de atuação em palco vazio me dá a certeza que nenhuma tecnologia se compara com  a arte pura e simples em sua essência, que nenhum efeito especial de um filme ou TV se  compara com a magia do Teatro. 



O que presenciei foi algo que jamais esquecerei. Posso falar,  sem medo de errar, que Édipo, da Companhia Chapitô, foi uma das melhores e mais perfeitas  peças que já assisti. 

De arrepiar, literalmente.

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