sábado, 5 de outubro de 2019

Deixe a luz da varanda acesa – Ocupação Espaço Cena – DF



“Deixe a luz da varanda acesa” é uma peça lírica, uma poesia encenada em cima de memórias, lembranças e laços familiares. Escrita por Áurea Liz, lembra a visita a uma velha amiga, com quem temos tanto a conversar após longa ausência. É um tema universal. Cada um de nós tem essas lembranças guardadas e essa nostalgia.

Entramos pelo quintal da casa, em meio a um varal repleto de colchas e roupas, até chegarmos a uma casa simples e aconchegante, com um cenário que lembra um tempo que não volta mais. Nessa viagem ao passado, repleta de objetos de nossas infâncias, o clima intimista dá o tom do espetáculo. Estamos ali, presenciando o reencontro de Verônica (Lilian França) com a sua madrasta Rita (Áurea Liz), companheira de sua mãe.


Por não suportar o peso do preconceito de ser filha de uma mulher que é feliz vivendo uma relação homoafetiva, Verônica sai de casa. Muitos anos depois, voltando de outro país, onde buscou a felicidade, lutou por seus sonhos e conseguiu se formar, está ali de surpresa, de repente, para rever Rita e sentir o cheiro da terra e demais aromas peculiares daquela casa, que também chegam ao espectador. 


Em um clima conflituoso, porém gostoso e saudável, cheio de amor e carinho, estamos ali, pensando em como é bom ter aquela conversa, tomar café, comer bolo e comer aquele pão quentinho com quem gosta da gente e não vemos há muito tempo. Com todo o afeto e todos os conflitos são momentos que nos fazem refletir e repensar tudo que aconteceu, onde estamos e para onde vamos. A peça acerta na questão de nos levar em um passeio às nossas memórias.


Algumas passagens e soluções cênicas são bem interessantes: objetos de memórias, leitura de cartas inusitadas, fazer café, conversar na varanda e as diversas camadas de lembranças, que se completam com a trilha sonora.



Foi comovente observar a entrega das atrizes, que visivelmente se emocionam durante o espetáculo.

Importante destacar que a peça venceu os Prêmios de Melhor Espetáculo e Melhor Atriz no II Festival de Teatro de Bolso 2019 – DF.

Destaque também para a montagem da peça no CRAS de Ceilândia e no Lar dos velhinhos, fico imaginando a emoção que sentiram tanto o público como os artistas e a equipe técnica (http://www.tmmagazine.com.br/amp/espetaculo-deixe-luz-da-varanda-acesa-em-temporada-por-cras-do-df-e-no-canto-da-auge).

Em clima nostálgico, fiquei comovido ao saber que a consagrada atriz Verônica Moreno, falecida em 2015, interpretaria Rita e que a atriz/dramaturga Áurea Liz assumiu o papel para homenageá-la. https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2019/06/14/interna_diversao_arte,763023/deixe-a-luz-da-varanda-acesa-brasilia.shtml



Não importa por onde andemos, por qual caminho percorremos, citando Chaplin: “Quando me for, levarei um pouco de ti e deixarei um pouco de mim”.  

Fotos: Diego Bressani, exceto da atriz Verônica Moreno (divulgação).

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