quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Tucumã - Lucia Morais Tucuju

        Com muita alegria recebi o livro da contadora de histórias, poetisa e atriz Lucia Morais Tucuju, com ilustrações de Adilson Dias e prefácio de Daniel Munduruku, que destaca a ancestralidade na poesia, que somos partes de um todo e nos convida para pertencer e mergulhar, aproveitando cada detalhe da obra.

Lucia e o Pajé Kuara Papá

 

 Daniel Munduruku
 

        O tucumã é uma pequena fruta amazônica com uma polpa muito nutritiva e de alto valor energético, de suas folhas, os indígenas confeccionam cordas dos arcos, redes para pesca e rede de dormir, aproveita-se de sua madeira, de seu óleo e sua amêndoa (saiba mais). 

 

        Como um fruto a ser saboreado, Tucumã é uma obra dedicada aos povos originários, aos amigos e às crianças. Uma bela oportunidade para se embrenhar na Amazônia, conhecendo um pouco mais desse lugar mágico ou fazer quem já conhece relembrar momentos, cheiros e sensações, também para imaginar as experiências de quem vive ou viveu lá.

 Bia Bedran

        As ilustrações autorais de Adilson Dias são delicadas, bem cuidadas, emoldurando Tucumã. Nas linhas, entrelinhas e desenhos nos encontramos, percebendo que precisamos manter a ancestralidade acesa, viva, e tudo isso passa pela floresta e pelos povos originários que nela habitam. Segredos, espetáculos naturais, pequenas grandes alegrias, tristezas sendo curadas, lendas, lembranças, imagens, correntes de rios, pescarias, comidas, destino e o que mais couber, até a rasga mortalha e a Matinta Perera. 

Alessandra Negrini 

        Um livro que mostra a importância da memória, da vida em harmonia e do respeito à mãe natureza, que passa por um momento delicado e que até Tupã está preocupado, mas os povos originários e os que os apoiam jamais perderão a esperança e a vontade de lutar. Assisti algumas lives e achei linda a abordagem da poetisa Lucia e sua sobrinha Sophia, dando mais uma dimensão do livro, que pode ser lido intimamente, baixinho, para fora ou declamado. 

Sophia e Lucia
 

                    Onde comprar: https://www.livrariamaraca.com.br/produto/tucuma-lucia-morais-tucuju/ 


     

    Por fim, faço uma singela poesia para homenagear a obra e seus artistas que conheci em Arandu, apresentado no CCBB-DF em 2019 (Arandu): 

 

Histórias para se alimentar 

Como não lembrar,  

da indígena contando histórias com seu maracá

Aquele chocalhar que nos mexe por dentro e nos faz entrar nas lendas,

nos livros, no que está a contar

Arandu, Tucumã, 

sabedoria e alimento popular

Materializados em peça, livro

Ancestralidade e infinito particular 

Eu, Lucia e Adilson


        Instagram:

        @luciamoraistucuju

        @adilsondiasartes

                  @danielmundurukuoficial 


       


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

20 Mil Léguas Submarinas – Solas de Vento (SP) – CCBB/DF

    Após “A Volta ao Mundo em 80 dias” (saiba mais) e “Viagem ao Centro da Terra”, chegou a vez da trilogia Viagens Extraordinárias chegar ao seu destino final, nos convidando a explorar o fundo do mar, com o espetáculo “20 Mil Léguas Submarinas”, baseado no clássico livro de Julio Verne, publicado em 1870 (saiba mais).

    A sensação é de estar por alguns minutos embarcando na viagem com os três mergulhadores no misterioso veículo submarino, em meio a um clima de mistério e segredos em meio a vilões estranhos e perigos, em meio a um ambiente do teatro fantástico, em uma atmosfera bem peculiar.


    Os elementos de circo predominam na montagem, que ganha também linguagem da dança e do teatro gestual, neste espetáculo que conta com a direção de Álvaro Assad, fundador do Grupo ETC E TAL (saiba mais), um dos grandes mestres dessa arte.  A caracterização das personagens está bem interessante, com destaque para o figurino e os adereços de cena, compondo com a cenografia todo ambiente necessário de imersão. A cenografia também colabora com proposta, com o uso inclusive de um periscópio sensacional. 

    A peça é bastante imersiva e visual, criativa e ousada em alguns momentos. A participação do público como passageiro nessa aventura foi intensa e interessante, os atores se desdobraram para contar a história, um bom espetáculo para todas as idades. A única ressalva é em relação a dificuldade de entender o contexto mais minucioso da história, caso não tenha contato prévio com o livro ou para crianças, que se acresce a questão da opção exclusiva pela ausência de falas, mesmo nada que impeça o público de curtir cada momento deste mágico mergulho e perceba bem o contexto geral.

“Sim, amo-o! O mar é tudo! Cobre sete décimos do globo terrestre. Seu bafejo é puro e saudável. É o imenso deserto onde o homem nunca está só, pois sente a vida efervescer a seu lado. O mar não apenas é o veículo de uma sobrenatural e prodigiosa existência, não apenas é movimento, é amor, é o infinito vivo, como disse um de seus poetas.” Júlio Verne.



    Viva o Teatro!!!


    Solas de Vento: http://solasdevento.com.br/companhia/

    Agradecimentos: 

    Rodrigo Machado (@territoriocomunicacao)  

    Suene Karim (@suenekarimproducoes)




    

   

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Liberdade, Liberdade (Leitura Dramática) – Osdramátikos (Brasília/DF) – Sesc Garagem/DF

 

Após “Uma Criatura Dócil”, Osdramátikos retomam as apresentações presenciais das leituras dramáticas, em temporada regular no Sesc Garagem, que serão realizadas às terças-feiras, de acordo com a programação do espaço, com o tradicional vinho tinto, que harmoniza muito bem com espetáculo, mas suspenso temporariamente devido à variante ômicron.

Para que o cidadão do país seja mais livre, é preciso que as riquezas produzidas no país fiquem no país!!!


Sempre que mais de meia dúzia de pessoas se reúnem, a liberdade individual cede aos interesses coletivos!!!


O texto escolhido para essa volta tão importante para a cena teatral local, foi Liberdade, Liberdade, de 1965, do lendário Grupo Opinião, escrito por Millor Fernandes e Flávio Rangel,  que se basearam na leitura de 75 livros e apresentado à época por Paulo Autran, Nara Leão, Oduvaldo Vianna Filho e participação especial Tereza Rachel.

Quando Bernard Shaw esteve nos Estados Unidos foi convidado a visitar a liberdade, mas recusou-se afirmando que seu gosto pela ironia não ia tão longe. 



Se
o governo continuar permitindo que certos parlamentares falem em eleições; se o
governo continuar deixando que certos jornais façam restrições à sua política
financeira; se continuar deixando que alguns políticos mantenham suas
candidaturas; se continuar permitindo que algumas pessoas pensem pela própria
cabeça; se continuar deixando que os juízes do Supremo Tribunal Federal
concedam habeas-corpus a três por dois; e se continuar permitindo espetáculos
como este, com tudo que a gente já disse e ainda vai dizer – nós vamos acabar
caindo numa democracia!!!

O texto urgente e necessário quando estreou, permanece urgente e necessário, mesmo que os próprios artistas tenham entendido como um texto circunstancial, como declarou Vianinha ao escrever sobre ele, por ser uma propaganda, uma arte feita dentro dos limites e para os novos limites da consciência social. De certa forma, uma aula sobre o mundo que nossos pais viveram e pela conexão passado, presente e futuro, o que vivemos e que as próximas gerações viverão.


Na discussão final desta Declaração (da Independência Americana), foi cortado um item que condenava a escravatura. A questão racial americana nascia com o país!!!



A segregação racial é o fruto do concubinato entre a imoralidade e a
desumanidade!!!

Assim como a peça original, a leitura dramática fez questão de manter o bom humor e astral alto, apesar de temas pesados e difíceis, mas que por isso não podem ser negligenciados, por que a busca pela liberdade é constante e quando não nos resolvemos com o passado, ele pode voltar e de certa forma, estamos vivendo isso hoje, com a esperança que não vivamos isso amanhã, já que a liberdade não é algo natural, dado, mas são conquistas humanas.


Qualquer tentativa de libertação dos negros era castigada com crueldade
inimaginável. Em 1751, regressando de uma expedição contra índios e escravos 
fugidos, Bartolomeu Bueno do Prado voltou trazendo consigo 3.900 pares de
orelhas de negros que destruiu.



O fascismo vai restaurar a saúde de Espanha!

Abaixo a inteligência!

Viva a morte!


O texto interpretado por três atores talentosos, Abaetê Queiroz, André Araújo e Bárbara Gontijo deu ritmo e dinâmica à apresentação, tendo como grande mérito, o espectador sentir o gosto de imaginar como foi a apresentação naquele tempo tão cinza (quanto esse) da nossa História. Assusta como as coisas se repetem, como sábios, poetas, dramaturgos, escritores e artistas foram julgados e como genocidas por um instante foram de forma ignorante, estúpida e conivente exaltados, como a liberdade está sempre na corda bamba ou sendo materializada de forma hipócrita e equivocada.



Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda!!!




 Entre os homens
livres não pode haver escolha entre o voto e as armas. Os que preferirem as
armas acabarão pagando caro. A verdadeira força dos governantes não está em
exércitos ou armadas, mas na crença do povo de que eles são claros, francos,
verdadeiros e legais. Governo que se afasta desse poder não é governo – mas
uma quadrilha no poder!!!

Em relação à parte musical, a leitura teve a opção de substituir algumas músicas incidentais por canções nacionais completas contemporâneas como “O Tempo Não Para”, de Cazuza, e usar inclusive um belo clássico da capoeira, “Rei Zumbi de Palmares” de Mestre Moraes, na voz e violão emocionantes de Abaetê Queiroz.

Fui chamado a cantar e para tanto há um mar de som no búzio de meu canto. Hoje, fui chamado a cantar a liberdade – e se há mais quem cante, cantaremos juntos. 



Todos os seres humanos nascem iguais e livres em dignidade e direitos, sem
distinção de raça, sexo, cor, idioma, religião, opinião política ou de qualquer outra
índole.
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sua pessoa;
Ninguém será submetido à escravidão;
Ninguém será submetido a torturas e a tratos cruéis;
Ninguém poderá ser arbitrariamente preso, detido ou desterrado;
Toda pessoa tem direito a sair de seu país e a regressar
livremente a seu país;
Toda pessoa tem direito à propriedade;
A maternidade e a infância têm direito a cuidados especiais;
A vontade do povo é a base da autoridade do poder
público;
E todos são iguais perante a lei.
(Declaração Universal dos Direitos do Homem)




Vida longa à programação dos Osdramátikos!!!


Viva o Teatro!!!


Ficha técnica: @osdramatikos

Agradecimentos: Luciana Lobato e Guilherme Angelim.



sábado, 29 de janeiro de 2022

Um Lugar de Amor – Grupo Pele – Teatro dos Ventos – Águas Claras/DF

 


    A história de um encontro que acontece de tempos em tempos ou talvez só aconteça uma vez, um eclipse, que se faz e se desfaz, no meio do tempo espaço, vão livre, vão livres, cada um sabendo o que vai deixar ou vai ficar, um momento para viver, apreciar e degustar, efêmero, como tudo é, tudo vai.

    Um Lugar de Amor é um espetáculo original de dança com elementos de acrobacia, delicado, poético e belo que conta a história do encontro da Lua (Catherine Zilá) com o Sol (Carlos Guerreiro), que nunca mais serão os mesmos, mesmo sabendo que assim seria, tirando o equilíbrio, trazendo inquietude, caos, mas também o amor ou paixão, que transcende, aquele que toca e muda, ilumina, mas escurece, pode acalmar, mas pode, como o instinto espera, ser bem mais. 


    A obra tem como base o texto original de Catherine Zilá, ilustrado com desenhos autorais de Carlos Guerreiro e as coreografias de cada cena são realizadas com músicas brasileiras, que combinam com toda a história, prendendo a atenção do público do início ao fim da apresentação. As coreografias de dança contemporânea e acrobacias circenses são muito bem executadas, com bastante leveza e precisão, no solo, em escada e em tecido acrobático, são dois poetas, a Lua e o Sol. 


    Como é importante ver trabalhos autorais bem cuidados e feitos com essência, carinho, vontade e dedicação. A Arte como deve ser: alimento do banquete antropofágico que nunca deve faltar na mesa de qualquer cidadão, a Arte como forma de ganhar a vida e como forma de viver.

 

 Fundado em 2019, o Grupo Pele é formado pelos bailarinos, acrobatas e professores Catherine Zilá e Carlos Guerreiro com enfoque principal na Dança Contemporânea e Acrobacias de Solo e Áreas.

    O Teatro dos Ventos é um espaço cultural localizado no coração de Águas Claras/DF, que é um centro de formação artística com cursos livres, formação de atores, com um teatro de 60 lugares e grupo teatral (saiba mais).

    A pandemia não acabou, mas a Arte, apesar de todas as perseguições que vem sofrendo, segue viva e pulsante, graças aos Artistas e Profissionais da Cultura, que são gigantes, e ao público, que mais do que nunca precisa lutar e exigir que o Teatro continue a existir e resistir. 
   

    O Teatro dos Ventos fica localizado na Rua 19 Norte, Loja 5 do Duo Mall, em Águas Claras. 

    Ingressos: (61) 983606098

   @peledancacirco

    @grupoteatrodosventos     

    Agradecimento: Ferdi (@ferdi.insta)

sábado, 22 de janeiro de 2022

À Margem – Teatro dos Ventos – Águas Claras/DF Em cartaz 06 e 13 de fevereiro/2022

 


Quem está à margem? Apenas quem observamos ou quem também observa? 


Montagem do Grupo Teatro dos Ventos, dirigida por Ferdi, a peça é um canto dos que não tem voz, uma reflexiva poesia concreta, sobre a dura realidade da vida, que sem perder o bom humor, algumas vezes necessariamente ácido, joga luz sobre a invisibilidade cotidiana, que a maioria não enxerga ou já optou por não mais enxergar.


Tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome!!!

O espetáculo tem cenas inspiradas em A Ópera do Vintém (Brecht), A Ópera do Malandro (Chico Buarque), em poemas de Solano Trindade (saiba mais), Drummond e Ferreira Gullar, além de construções orgânicas criadas por Ferdi, intercaladas por elementos do tratro musical, que se interligam e conversam entre si em um grande moisaico, mostrando em vários níveis, prismas e dimensões a exploração da desigualdade, da miséria, da urgência e da necessidade das pessoas, que se transforma em privilégio e lucro para aqueles que conseguem se beneficiar utilizando os equipamentos humanos, objetos.  

Não há vagas!!!

O sentimento dos explorados e a impotência explodem na plateia, que observa como o sistema e a lei reforçam o circulo vicioso e o status quo, o lamento justo de uns é brisa para outros, por gerações e gerações, e mesmo que só quem passa sabe de verdade o que é fome, sede, dor, inferioridade, vulnerabilidade, talvez nínguem esteja livre de estar à margem.


E agora José? 

Além do destaque para o figurino muito bem cuidado e a cenografia funcional, chama atenção a presença de palco do ator, diretor e dramaturgo Ferdi, um talento do Teatro de Brasília que nos brinda com sua atuação e texto em uma noite que fez pensar, refletir, se divertir, por que por mais dura que seja a realidade, o ser humano não pode deixar de resistir sonhar e ir ao teatro é um ato de resistência e um momento de exercitar o sonho, ainda mais neste momento que a Cultura atravessa no nosso país. 


O Teatro dos Ventos é um espaço cultural localizado no coração de Águas Claras, contendo um Centro de Formação Artística com cursos livres, formação de atores, teatro de 60 lugares e Grupo Teatral. O Grupo Teatral, fundando em 2011, recebeu em 2020 o prêmio de Melhor Coletivo Cultural do DF e já produziu 11 espetáculos profissionais e se apresentou em cinco regiões brasileiras (saiba mais).

Viva o Teatro!!!

A pandemia não acabou, mas a Arte, apesar de todas as perseguições que vem sofrendo, segue viva e pulsante, graças aos Artistas e Profissionais da Cultura, que são gigantes, e ao público, que mais do que nunca precisa lutar e exigir que o Teatro continue a existir e resistir. 


O Teatro dos Ventos fica localizado na Rua 19 Norte, Loja 5 do Duo Mall, em Águas Claras. 

Ingressos: (61) 983606098

@grupoteatrodosventos

Agradecimento:

Ferdi (@ferdi.insta).


Meu Deus!

 

Se sua fé fosse uma utopia?

Se no lugar de templos suas esquinas tivessem teatros?

Se seu deus personificado fosse uma personagem?

Se seus dogmas fossem poesias?

 

Se sua prece fosse diálogo?

Se seus bancos fossem plateia?

Se seus profetas fossem dramaturgos?

Se seus pecados fossem parte do jogo cênico?

 

Se seus evangelhos fossem peças que nos mostram o caminho?

Se sua luz fosse holofotes?

Se seus sacerdotes fossem atores e atrizes?

Se a vida eterna terminasse sempre em aplausos?

 

Sejam bem-vindos ao nosso Reino

 

Rodrigo Ferret – 03/08/2020


sábado, 8 de janeiro de 2022

A Volta ao Mundo em 80 Dias – Solas de Vento (SP) – CCBB/DF

       


 Primeira parte da trilogia do “Viagens Extraordinárias”, do Grupo Solas de Vento, A Volta ao Mundo em 80 dias” é um espetáculo infanto juvenil, para todas as idades, com direção de Carla Candiotto, estrelado por Bruno Rudolf e Ricardo Rodrigues, baseado no clássico livro de Julio Verne, publicado em 1873 (https://www.ebiografia.com/julio_verne/).


A viagem que se inicia na Inglaterra, passa pela Itália, Egito, Índia, China, Japão e Estados Unidos, mostrando as aventuras e desventuras do Lorde Fogg (Ricardo Rodrigues) e seu dedicado assistente francês Passepartout (Bruno Rudolf) para completarem o trajeto no prazo calculado, 80 dias.


Os premiados artistas se desdobram entre as personagens principais e personagens periféricos, como o impagável vilão Mr. Fix, inventor de todas as formas de fazer as pessoas ficarem em casa, como o controle remoto e os streamings, o carismático carimbador de passaporte, além de personagens periféricos, em trocas tão rápidas quanto perfeitas, mantendo o ritmo das cenas, marcadas pelos elementos circenses, de dança e do teatro gestual, embora os diálogos sejam bastante consistentes e impulsionadores da história, que consegue manter o público atento e participativo na quase totalidade do tempo da peça.


O ponto alto do espetáculo é a criatividade e a forma como conduz o imaginário da plateia, que consegue ver trem, barco, elefante, riquixá e até mesmo montanhas com neve em uma cama com rodas, aros de bicicletas, bengala e sucatas, sugerindo como se pode sonhar e viajar, dar uma volta ao Mundo apenas com a imaginação, exatamente o que acontece em cena, criando espaços e lugares em um palco, como andar em cima de um elefante em pela Índia, andar de riquixá em Hong Kong ou até mesmo estar em alto-mar. 



Relevante também, a presença de câmeras ao vivo para projeção de imagens nas cenas, onde um simples disco em rotação vira um mar ou uma tempestade, servindo ainda para mostrar o roteiro desta incrível viagem, bem como captar os viajantes em seus transportes, em cenas dinâmicas que simulam a movimentação de forma bem real e inusitada. Chama atenção, também, o cuidadoso e delicado figurino.



Nunca se fez nada grande sem uma esperança exagerada”. Júlio Verne.


Até a próxima parada, Viagem ao Centro da Terra!!!

A pandemia não acabou, mas a Arte segue viva, pulsante, apesar de todas as perseguições que vem sofrendo, graças aos Artistas e profissionais da Cultura, que são gigantes, e ao público, que mais do que nunca, precisa lutar e exigir que o Teatro continue a existir.

Viva o Teatro!!!

Ficha técnica e programação: clique aqui

Solas de Vento: conheça aqui

Agradecimento: Rodrigo Machado (Território Comunicação)



quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Uma Criatura Dócil – Osdramátikos (Brasília/DF) – Sesc Garagem/DF – Em cartaz nos dias 26 e 28/10/2021 (Presencial)

 

Uma volta em grande estilo. Público. Música. Celebração. Uma noite emocionante e especial, nesta retomada do Sesc Garagem, palco tão importante da nossa Capital, às apresentações presenciais.



Após um longo inverno, aqui estamos novamente, na Rússia do século XIX, de frente para Fiodor Dostoiévski, em um doce privilégio de ouvir a leitura de um importante texto do realismo fantástico, parte de sua grande obra. Um texto de 1876, que parece nos mostrar que os russos disseram tudo contando suas aldeias, como disse Tolstoi, e o que não disseram diretamente, estão nas entrelinhas e até mesmo no silêncio.


O texto, baseado em uma notícia lida pelo autor no jornal, foi muito bem-adaptado por Claudine Duarte em três atos. A obra foi considerada uma das mais vigorosas novela de desespero da literatura mundial. Trata da narrativa de um pobre diabo, dono de uma loja de penhores com um histórico decadente, nos contando sobre a sua relação com a jovem esposa que jaz a nossa frente (saiba mais).


Embora seja uma leitura dramática, a apresentação traz todo clima do teatro russo, capitaneado por Stanislavski, que tanto montou Dostoiévski. A narrativa realizada por três grandes atores trouxe uma dinâmica especial, trazendo as múltiplas personalidades do nosso narrador. Abaetê Queiroz, André Araújo e Léo Gomes nos brindam com suas interpretações e talento, que trazem toda a polifonia e paradoxo necessários, para contar uma história complexa deste homem comum, tendo como pano de fundo o espírito frente à tragédia do silêncio.


Além do texto e das interpretações, o cenário, o figurino, a trilha sonora, a forma diferente, doce e carinhosa de acomodar a plateia, tudo isto, trouxe brilho para esta noite mágica, reafirmando a Arte Maior, o Teatro, onde os artistas se encontram mais próximo do público, ao vivo, sem telas.

Com “Uma Criatura Dócil”, Osdramátikos retomam as apresentações presenciais das leituras dramáticas, foco do coletivo que se apresenta há cerca de 6 anos e que durante a pandemia realizou as leituras dramáticas de forma on line.

Por fim, como sugestão à montagem, deixaria os notebooks e a sua operação na cabine de som/iluminação.

Os homens estão sozinhos na terra, rodeados de silêncio – isso é a terra!”

A pandemia não acabou, mas a Arte segue viva, pulsante, apesar de todas as perseguições que vem sofrendo, graças aos Artistas e profissionais da Cultura, que são gigantes, e ao público, que mais do que nunca, precisa lutar e exigir que o Teatro continue a existir. Bom lembrar que nesta noite mágica, o negacionismo não teve vez, sendo conferido na entrada, se cada pessoa completou sua vacinação.

Viva o Teatro!!!


Ingressos: compre aqui


Ficha técnica e processo criativo contado pela escritora Claudine Duarte: clique aqui

Página do espetáculo: clique aqui

Fotos: Mari Mattos


Agradecimentos:

Sesc Garagem, Coletivo Maria Cobogó e Supermercado Big Box.

Guilherme Angelim e Dani Vasconcelos (Guinada Produções)

Samuel Ramos (Sesc)