Salvador, Anoiteceu e é Carnaval – CCBB/DF – Em cartaz até 30/04/2023

        Uma fábula em ritmo de carnaval, um grito de alerta contra esse mundo distópico que insiste em nos sugar, uma máquina de moer gente, que quando menos esperamos já estamos quase lá. Projeto corajoso idealizado por Paulo Verlings, com dramaturgia de Marcéli Torquato e direção de Vilma Melo, “Salvador, Anoiteceu e é Carnaval” conta a história de Salvador, um músico idealista e sonhador, quase um anti-herói, em busca de sua amada, que desapareceu sem deixar qualquer vestígio. 

        Em sua aventura, Salvador vai parar em Ermo, a cidade que não para, quando é confundido com uma estátua e se depara com um mundo diferente, onde a noite dura apenas 60 minutos, tempo suficiente para a população dormir, por que precisam trabalhar e nada mais importa, onde o tempo passa tão rápido a ponto de não se ver o tempo passar. Já se sentiu em Ermo?

        Com críticas ao mundo corporativo contemporâneo, com referência à necessidade de consciência de classe e de valorizar o que realmente importa, ao mesmo tempo que mostra a busca do protagonista, o espetáculo traz reflexão sobre até onde um mundo em que o tempo é voltado implacavelmente ao trabalho e à luta pela sobrevivência pode chegar e como é fácil manipular pessoas que se comportam como robôs. Já se sentiu um robô?

        Costurada com canções da música baiana de várias gerações, cantadas ao vivo pelos atores em cena e tocadas por músicos, que também fazem a sonoplastia e a ambientação sonora, a peça, muito bem construída em metáforas, vai se desenvolvendo de forma crescente e contagiando o público, em uma bela homenagem à cultura e à vida, que devem ser celebradas. Tudo se reconstrói, a vida sempre toma o seu lugar. Já anoiteceu?

        As atuações na estreia em Brasília foram seguras e bem desenvoltas. Interessantes as diversas soluções cênicas do espetáculo, que vai de uma linguagem própria para quem precisa ter pressa a cenas realizadas em sentido anti-horário, além de figurino e cenário funcionais e detalhistas, que ajudam bastante na ideia central da peça, que possui duas versões, uma recomendada para maiores de 14 anos e outra livre. 

Caia na folia!

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Agradecimento: Rodrigo Machado (Território Comunicação)

Fotos: Divulgação

Volver a Leticia – Tullio Guimarães – Casa dos Quatro/DF – 1°/04/2023

        Celebração de 35 de carreira de um dos grandes nomes do nosso Teatro, Volver a Leticia conta as memórias de Tullio Guimarães, renomado ator e professor da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, um homem de teatro que foi escolhido pela arte e não quis ser mais um escravo bem pago, mas alguém que viveu seu ofício de forma intensa e corajosa.

            Dirigido pelo icônico dramaturgo e diretor Alexandre Ribondi, o espetáculo traz a vida do artista em diversos momentos, alguns bastante íntimos, desde a infância na Amazônia Colombiana,  da amizade insólita com a barata, que o ensinou como lidar com o mundo, passando pelas descobertas da juventude, ao início como professor de artes, ao aprendizado com a Dama do Teatro Dulcina de Moraes, passando pela consagração nas peças de sucesso, como Desbunde, até o que considera um dos maiores presentes de sua carreira, o grupo Viva a Vida, com atores alunos cima de 55 anos.

            Com forte influência dos elementos do Teatro Butoh, uma grande paixão de Tullio, a peça é bastante física, com a intensidade e a força de um teatro de verdade, vivo, em uma busca pelo eterno e um testemunho de seu tempo, de um ato de amor, coragem e resistência de um ator que se doa ao público por inteiro, mostrando a intimidade, alegrias, lutas e cicatrizes de alguém que deixou seu nome gravado na história. Presenciar este momento é poder saborear um pouco dessa linda trajetória.

        A rica e diversa trilha sonora é composta por músicas que marcaram sua vida e carreira; o cenário minimalista é composto por uma escada e um alto-falante que tem diversas funções durante as cenas; e o figurino vermelho é interessante e bem subjetivo, podendo remeter a diversas ideias, que vão de acordo com a percepção do público.

           A peça circulou em diversas regiões administrativas do DF e em escolas da rede pública, levando a arte ao povo, como Tullio sempre fez durante toda sua vida, que formou diversas gerações de artistas da capital do país, dando continuidade ao sonho de Dulcina. Agora vai voar, em maio/2023 vai ao México participar do Festival CLETA (Centro Libre de Experimentación Teatral y Artística) e foi convidado a participar do Vienna Butoh Art Festival, na Áustria, em dezembro/2023. 

O Teatro salva!

Direção e dramaturgia: Alexandre Ribondi.

Elenco: Tullio Guimarães.

Figurino e cenografia: Marcela Hollanda.

Assistente de direção: Josias Silva

Sonoplastia e iluminação: Josias Silva.

Produção: Casa dos Quatro / Rui Miranda

Fomento: Fundo de Apoio à Cultura - FAC / Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF

Apoio: Sindicato dos Bancários do DF

Sobre o Viva a Vida: clique aqui

Fotos: Divulgação