sábado, 30 de novembro de 2019

Atrás das Paredes – Santiago Serrano (ARG) – Cia Plágio (DF) – CCBB – DF


A peça Atrás das Paredes foi escrita pelo grande dramaturgo argentino Santiago Serrano em comemoração aos 10 anos da Cia Plágio de Teatro. Um texto forte e talentoso que passeia pelo drama, pela comédia e pelo suspense, falando sobre assuntos escondidos atrás das paredes, que em algum momento precisam ser revelados e debatidos, provocando a guerra do todos contra todos.


Dirigido por Sérgio Sartório, o espetáculo tem um clima sombrio com uma permanente tensão no ar, como o tempo que estamos vivendo. Quando nada nunca é o que parece. Quando desconfiamos de todos. Como em um Estado de Natureza de Hobbes, estamos todos tentando estabelecer o pacto social, nem que seja entre duas, cinco ou mais pessoas.


O cenário, que tem uma interessante homenagem ao clássico O Iluminado de Stanley Kubrick, nos transposta ao triste lar de Flora (Daniela Vasconcelos) e Simão (André Deca), que em um momento de solidão e motivos estranhos são recebidos pelo Casal de vizinhos Pepê (Carmen Moretzsohn) e Teobaldo (Chico Sant`Anna), acompanhados da rebenta dela, Norali (Bianca Terraza). As cenas vão ganhando camadas e ardis, de forma crescente e o que parecia ser um simples almoço se torna a ruptura da ordem como em Hobbes, a revelação da essência de cada um e uma grande reflexão sobre as relações humanas e suas particularidades.


Destaque para Carmen Moretzsohn, que com uma atuação perfeita, natural e orgânica, eleva a vibração da peça junto com Chico Sant`Anna, com seu talento e força cênica. Importante mencionar a interpretação da jovem atriz Bianca Terraza no papel de Norali, principalmente nas cenas mais fortes.


Obrigado Santiago Serrano por presentear o teatro de Brasília com mais um grande texto, parabéns por sua trajetória e obra, pela sua acessibilidade e receptividade. Parabéns à Cia Plágio de Teatro pelos 10 anos de luta e resistência.


Ficha Técnica: clique aqui
     
Agradecimento: Guinada Produções

Fotos: Divulgação

Reportagem sobre a peça: clique aqui


sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Rinoceronte – Agrupação Teatral Amacaca (ATA) – Direção de Hugo Rodas – Espaço Cultural Renato Russo – DF


Li há alguns anos a peça “O Rinoceronte” de Eugène Ionesco (saiba mais), um dos pais do Teatro do Absurdo, que ele mesmo gostava de chamar de Teatro do Insólito. Escrita em 1956, a peça é um marco da dramaturgia com seu texto fluído, penetrante, alucinante, que contém humor ácido e muita reflexão filosófica a respeito da sociedade francesa à época. Um texto atemporal e cosmopolita, um clássico, que nunca deixará de ser atual nem universal.


Recebi com muita expectativa e felicidade a notícia de que o patrimônio vivo do teatro, Hugo Rodas (Biografia), iria dirigir este espetáculo apresentado pelo ATA, o resultado só poderia ser algo grandioso e mágico, como de fato é.


Somos recebidos por toda a trupe com músicas de Edith Piaf tocadas pelo trio formado por Gabi Correa (voz), Iano Fazio (contrabaixo) e Pedro Tupã (acordeom), que também participam da sonoplastia, toda realizada ao vivo. Músicas lindas, emocionantes, bem tocadas, cantadas pela voz incrível e hipnotizante de Gabi Correa.


A peça se passa em uma pacata cidade que de repente se vê aos poucos tomada por rinocerontes. Como em um efeito manada, numa onda, as pessoas começam a se transformar também nos paquidermes. Ionesco nos mostra a importância de resistir, de permanecer lúcido, de jamais se render, mesmo sabendo o alto preço a pagar por quem marcha em direção contrária à multidão, à manada. O preço de não se submeter, de não se conformar, de ser diferente. E assim, buscar a tão sonhada liberdade.


A adaptação do ATA é ousada e sensacional, sem dúvida uma das melhores montagens que já assisti. As interpretações justas e sincronizadas, sem defeitos ou vícios, com cada artista dando o melhor de si. O ritmo crescente, sem perder o fôlego nem a atenção do público, contagia. O clima burlesco representado. O figurino da peça bem cuidado e harmonioso. O cenário limpo, mas funcional e convidativo à imaginação. Destaque para o trabalho facial e corporal, trazendo insólitos e inesperados elementos de desenhos em quadrinhos para a peça, com exercícios de alta complexidade.


O elenco formado por Rosanna Viegas, André Araújo, Abaetê Queiroz, Dani Neri, Luiz Felipe Pereira, Camila Guerra, Iano Fazio, Juliana Drummond, Nobu Kahi e Gabi Correa, atua de uma forma impecável, resultado de um trabalho certamente duro, minucioso e detalhado aliado ao talento e experiência cênica de cada integrante. Haja força e garra.


Obrigado Hugo Rodas e ATA por presentear o público com Ionesco em uma montagem tão bem cuidada e bem feita. Encerro o texto com as palavras de Hugo Rodas (entrevista):


“Será que é uma sorte encerrar o ano com essa peça? Preferia fechar de outra maneira, dizendo outras coisas, tratando tudo isso de outra maneira e não tendo que me impor uma vez mais. É um trabalho muito forte e é muito forte o que estamos vivendo. Voltar uma vez mais há 40 anos e começar a lutar pelas mesmas coisas é muito estranho. É um passo tão forte, tão para trás. Ao mesmo tempo que é um orgulho também fechar o ano mostrando as coisas que precisam ser ditas"

Agradecimento: Max Lage (Espaço Cultural Renato Russo)

Ficha técnica: Clique aqui

Site do ATA: Clique aqui

Fotos: Diego Bressani

domingo, 24 de novembro de 2019

Transmitologia - Maria Leo Araruna (DF) – Teatro Goldoni – DF



Multidão plural e diversa para assistir o espetáculo. Teatro mais que lotado. Cadeiras extras. Representatividade. Representranstividade. Como isso é importante!


Maria Leo Araruna nos esperando com arma em punho. Travesti. Apocalipse. Fim dos tempos. Guerrilha sem fim. Luta eterna de quem sobrevive contra a estupidez e a ocupação de espaço, de quem quer poder existir como é e não como a norma dita.


O espetáculo é construído em cenas com uma narrativa não contínua que remetem a preguiça de explicar a preconceituosos adeptos do burrismo que governa o país e/ou a religiosos cagadores de regras que ser travesti não é doença nem transtorno mental, que as pessoas devem ser respeitadas como são e que jamais deixarão de existir, de viver, serem felizes e buscarem seus sonhos.


A interpretação visceral, raivosa no bom sentido, com garra, vontade e emoção de Maria Léo nos conduz pela guerrilha em busca do espaço e da voz necessária à questão trans, saindo do limbo, do não lugar, destruindo paradigmas em busca de identidade, cidadania e direitos rumo à ruptura da normatividade que aprisona e assassina as pessoas.


A peça também rememora tragédias relacionadas à violência contra pessoas trans. Covardias contra Dandara (https://www.metropoles.com/brasil/travesti-e-torturada-e-morta-a-pedradas-em-fortaleza/amp), Verônica Bolina (https://homofobiamata.wordpress.com/quem-somos-3/repercussao-internacional/transfobia-de-estado/) entre outras, no país que mais mata transexuais (http://especiais.correiobraziliense.com.br/brasil-lidera-ranking-mundial-de-assassinatos-de-transexuais). Basta!!!

    
Destaque para a cena Manifesto Trav (Eco)-Ciborgue. Baseada em uma pesquisa sobre os textos Medéia, de Eurípedes e Manifesto Ciborgue, de Donna Haraway (http://ea.fflch.usp.br/obra/manifesto-ciborgue), a cena faz uma analogia fantástica entre a condição trans e o mito da criatura ciborgueana, um ser entre o orgânico e a tecnologia. Interessante a abordagem da questão da artificialidade dos nossos corpos, baseada na classificação em gêneros que se trata de nada mais que uma construção secular. Quem dita a norma? Quem faz as regras? Quem classifica? Quem determina o que é natural ou não? Por que um corpo cis é correto e um corpo trans não é? Essas diferenças não seriam essa a base da violência transfóbica? De vidas desnecessariamente perdidas, desperdiçadas.


Parabéns Maria Leo Araruna, Kika Sena e equipe. Que o eco do traveco ecoe. Como é belo ver espaços sendo ocupados e vozes ecoando, inclusive na Academia (UNB). Que essa luta traga novos tempos, com novas consciências, uma nova sociedade rompa desse apocalipse.


Ficha Técnica: clique aqui

Fotos:  Janine Moraes - @janinemoraees


terça-feira, 12 de novembro de 2019

Dogville – Lars Von Trier (Dinamarca) – CCBB – DF


Até onde vai sua bondade?
Adaptação do filme de Lars Von Trier, a montagem dirigida por Zé Henrique de Paula e idealizada por Felipe Heráclito Lima é um projeto ambicioso e grandioso que conta com 16 atores em cena.


Enquanto o filme, estrelado em 2003, utilizava a linguagem teatral, na adaptação a lógica se inverte, com o teatro utilizando da linguagem cinematográfica. Interessante tanto para quem assistiu ao filme, observar os desafios de diversas soluções cênicas, quanto para quem não assistiu apreciar a instigante história que invade a mente da plateia. Dentre as soluções cênicas, closes cinematográficos e vídeos pré-gravados que agregam força ao palco.  


A peça possui narração nos moldes do teatro de Brecht que traz o distanciamento da ficção e a conexão do público com a realidade, criando uma armadilha moral.

O espetáculo questiona a essência e investiga a alma humana, provocando reflexão em quem a assiste, ninguém sai do teatro como entrou. São expostos os conceitos da verdade, da mentira, do limite da bondade, da ingenuidade, da exploração de outro ser humano e a tolerância do ser humano à exploração.
  

A peça se passa na época da grande Depressão Americana em um vilarejo abaixo de Montanhas Rochosas chamado Dogville, que tem sua rotina revirada pela chegada de uma forasteira fugindo não se sabe muito bem de quem nem de onde. Com o tempo, um pouco arrastado em alguns momentos, a peça começa a tomar rumos insólitos e ter situações surpreendentes, em episódios que criticam a xenofobia, os problemas de consumo do capitalismo, a exploração nas relações trabalhistas e revela o que há de pior na bondade e caridade do ser humano, em uma raio X da sociedade perquirindo até onde vai a tolerância e a aceitação do que se impõe de forma coletiva e como “cidadãos de bem” podem se tornar a personificação da banalidade do mal.


É uma história forte, que coloca em cheque a própria moral do espectador, da humanidade e do ser humano, que é o papel da arte, que descortina para refletir.


Com uma protagonista mais quinze atores em cena, muitos deles renomados no teatro, observei uma questão na montagem em Brasília, que necessita, na minha opinião, por se tratara de um projeto grandioso, ser trabalhada pela direção: a dificuldade em estabelecer a mesma energia cênica e vocal da protagonista com os demais atores. Nada que tire o brilho da própria protagonista, nem do elenco, muito menos da peça.

Seria o Brasil, uma grande Dogville? Ou Dogville está em qualquer lugar? Confesso que fiquei perplexo com as risadas em tom de deboche vindas da plateia em momentos infelizes para alguns personagens, temos uma sociedade doente?


Não vale a pena comprometer somente um dos seus ideais, só um pouco, para aliviar a minha dor?”

Ficha Técnica: clique aqui

Fotos: Daniel Sabino

Agradecimentos: Carla Spegiorin (Âncora Comunicação) e Ana Clara Matos (Maré Cheia)

sábado, 9 de novembro de 2019

Nas Encruza – Leno Sacramento (BA) – Espaço Cultural Renato Russo – DF


Negro. Saco na cabeça. Corra. Corra. Corra. Tiro. Chão. Levante. Corra. Chão. Levante. Basta!!!

Sufocamento coletivo. Vozes que precisam ser ouvidas. Corpos que não devem ser mais abatidos. Que a cultura seja da arte, da paz. E não da morte, de armas!


Leno Sacramento, do Bando do Teatro Olodum, apresenta o espetáculo Nas Encruza, segundo da trilogia iniciada por En(cruz)ilhada. A peça aborda o genocídio do povo negro em suas mais covardes modalidades.


Baseado em um teatro gestual, a peça convida à conscientização para o que estamos vivendo, que é o resultado de toda uma perspectiva histórica combinada com o retrocesso experimentado nos últimos anos. É um verdadeiro e necessário soco no estômago.


Por que os tiros encontram com infinita facilidade corpos negros? Existe uma política de extermínio do povo negro no Brasil? Isto é mais que evidente e negar isso ou é desconhecimento ou hipocrisia. Não podemos deixar de falar jamais, nem aceitar a política de esquecimento que matou e continua a matar pessoas como Evaldo Rosa (https://epoca.globo.com/os-257-tiros-contra-carro-de-evaldo-dos-santos-rosa-23687091), Ághata Vitória (https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/09/23/entenda-como-foi-a-morte-da-menina-agatha-no-complexo-do-alemao-zona-norte-do-rio.ghtml) e muitas outras. Política essa que quase matou o ator da peça (https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/a-bala-nao-foi-de-raspao-e-quando-pediram-para-parar-paramos-diz-ator/), em mais um episódio de estupidez e maldade.


Além das mortes físicas, que excluem do plano terrestre, a peça também aborda as mortes psicológicas, que excluem do plano social: o racismo, a homofobia, a infância interrompida, a intolerância religiosa contra religiões de matriz Africana, entre outras.


Destaque para as performances de Leno Sacramento, que sem dizer quase nenhuma palavra consegue tocar a mente de cada um dos presentes, impressiona sua vontade de seguir lutando, de batalhar cada espaço, bem como seu talento em representar e fazer vermos nitidamente as cenas do cotidiano do genocídio negro, as cenas tem uma plasticidade bem construída, utilizando elementos do próprio cenário para compor as personagens, além da interação com o público em um espelho de dois lados, o ator refletido na plateia e a plateia refletida no ator, formando um lugar comum de fala.


O figurino também dá o recado e mostra que independente da sua roupa, da sua classe social, se você for negro, você vai ser procurado pelas tais balas e seu corpo tem alto risco de ser marcado e seus músculos expostos. Não deve ser assim, mas ainda é. E isso precisa ser sempre falado, mesmo quando em outros tempos não acontecer mais.


Para reflexão, importante comentar o fato de eu ser o único não negro presente na peça, o que gerou duas questões: o emponderamento negro, teatro negro com plateia predominantemente negra; e a falta de empatia com a causa do outro, a falta de participar das questões mesmo não estando no lugar de fala.


Parabéns Leno Sacramento, pela trajetória, pela luta e pelo seu talento, que sua obra, ato político no sentido mais nobre da palavra, ecoe como seu canto em Iorubá e conscientize em todos os cantos e encruzas, que percorra com sua arte transformadora todos os teatros e todas as periferias possíveis.

Registro para a forte performance sobre ancestralidade negra de Carolina de Souza, acompanhada pela bela percussão de Luís Ferrara, recepcionando a plateia para o espetáculo.

Ficha Técnica: clique aqui

Fotos: Kadan Lopes - @pho.daan - (61)995891409

Agradecimentos:
Luciene Brito
Victor Hugo Leite

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Dicas culturais em Brasília - DF Novembro/2019

Dogville
CCBB - DF
 1° a 24/11/2019
Link do Evento


Nas Encruza
Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul
08 e 09/11/2019



Dentro
Casa dos Quatro 708 Norte
 Link do evento




Cena Universitária Nacional de Brasília - Céu 
I Festival Nacional Universitário do DF
Peças: Cimentolágrima, Viagens de Caetana, Gigante pela Própria Natureza, ContrAção, A Casa de Lorca, De Onde Nascem as Margens e Brasília 60 - o Cabaré.
Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul
14 a 17/11/2019
Link do evento




Transmitologia
Teatro Goldoni 208 Sul
16 e 17/11/2019
Link do evento
Crítica teatral



Arandu, Lendas Amazônicas
CCBB - DF
29/11 a 1°/12/2019



Atrás das Paredes 
CCBB - DF
 28/11 a 08/12/2019



Rinoceronte
Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul
29/11 a 08/12/2019



 Bistrô
Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul
29/11 a 1°/12/2019


Programação completa dos espaços culturais de Brasília:

Sites de compra de ingressos:


Blogs de Crítica Teatral  e de Teatro:
Cricri em cena




sábado, 2 de novembro de 2019

Paulo Freire, o Andarilho da Utopia – Teatro dos Bancários – DF



"Num país como o Brasil, manter a esperança viva é um ato revolucionário". Paulo Freire

Feliz é aquele que conheceu as ideias dos que buscam a conscientização e a libertação dos mais fracos, dos mais necessitados, dos que proferem palavras de esperança nos momentos mais sombrios e se tornam imortais e atemporais. Por qual motivo há de se temer tais preciosidades? Por qual motivo insistem em calar tais vozes que amplificam vozes que não tem voz? É de se estranhar, de se perguntar: por quê?


Paulo Freire, o Andarilho da Utopia, é um espetáculo grandioso embora traga simplicidade. É o que o homenageado e retratado sempre foi e sempre será: um gigante que tinha sua força na simplicidade. Um homem que falava de amor, que amava gente, gente de todo tipo. Um homem que amou seu país, que lutou e viveu por seu povo.


Concebida há quase uma década, a peça percorreu vários caminhos e obstáculos até chegar à montagem em 2019, em um intenso trabalho de pesquisa, que se iniciou em conversas com a Senhora Ana Maria Araújo Freire (viúva de Paulo Freire) e teve longos ciclos de criação coletiva. Com dificuldades de captação e patrocínio, a peça foi montada e rompeu, assim como o semeador de ideias, as dificuldades para chegar ao coração do nosso povo.


Em cena, um Paulo Freire vivo, encarnado por Richard Riguetti, que, com seu talento, carisma e simpatia, em uma verdadeira aula de teatro no aniversário de seus 40 anos de arte, conquista o público, que passa a também a integrar a peça em uma troca interessante e leve, tanto participando de cenas, como cantando em coro, celebrando o amor, em uma catarse coletiva, lembrando os ensinamentos de Freire que afirmava que nos educamos em comunhão. Palmas para o trabalho cuidadoso de Luiz Antônio Rocha, que prima por uma simplicidade com sofisticação para dizer tudo em um palco lúdico e uma direção precisa sobre o texto criativo e muito bem elaborado de Junio Santos.


A vida e obra de Paulo Freire, patrono da nossa educação (http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/17681-paulo-freire-e-declarado-o-patrono-da-educacao-brasileira), são encenadas em diversas passagens marcantes que vão da infância em Recife, do horror da ditadura, o exílio, a emocionante Carta de Henfil (http://diocostapalavra.blogspot.com/2007/04/carta-de-henfil-ernesto-geisel.html), a alfabetização em tempo recorde de colonos em Angicos (http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/04/1-turma-do-metodo-paulo-freire-se-emociona-ao-lembrar-das-aulas.html) até seus últimos dias (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/03/cotidiano/1.html).


Interessante a busca em Marx como a chave para entender o sofrimento dos mais pobres e pôr em prática o que Cristo pregava, nada mais religioso que pensar e lutar pelos oprimidos. A busca pela utopia que parece não fazer sentido, mas tem a maior função de todas: nos fazer buscar, nos mover para alcançar. Paulo Freire ensinou, ensina e ensinará a importância do amor e do respeito. E por isso foi considerado perigoso e subversivo, já que pensar e ter ideias foi e continua sendo algo altamente arriscado em um país no qual 57 milhões de pessoas se transformaram em rinocerontes de Ionesco. Além de Ionesco, destaque também para as referências inteligentes a Brecht, a Galeano, ao Grande Ditador de Chaplin e a Bob Marley, que trazem reflexão e complementam o espetáculo.


Parabéns para a iniciativa de circulação da peça nos rincões no nosso Brasil, indo a Angicos, terra do milagre de Freire, passando vários Estados, sendo apresentado em periferias e em acampamentos do Movimento Sem Terra (MST), indo onde o povo está, superando todos os obstáculos.


Viva Paulo Freire!!! Quem não se alimenta dos seus ensinamentos ou não os conhece ou já está morto!!! 


“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, ofendendo a vida, destruindo sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade sem ela tampouco a sociedade muda.” Paulo Freire, 1997.


Fotos: divulgação