sábado, 14 de dezembro de 2019

Monstros – Cia Novos Candangos (DF) – Teatro Goldoni


Estações de rádio sintonizadas de forma aleatória, luzes piscando de forma intermitente, muita fumaça. A senha para percebemos que algo estranho irá ocorrer. Mesmo em tempos estranhos, podemos ser sempre surpreendidos. Tudo pode acontecer.



Um prédio comum, com pessoas comuns. Conhecemos os moradores, cada um com suas peculiaridades e idiossincrasias, donos de seu reino domiciliar, agora expostos em uma reunião de condomínio. “Velhos desconhecidos”, terão a oportunidade de conhecer o pior dos vizinhos, em um clima tenso tomado pela paranoia de uma suposta invasão alienígena, em uma peça lúdica e bem humorada, mas que não deixa em nenhum momento fazer o público se enxergar como ser humano ali dentro daquela micro experiência.



A peça de “fake-ção científica” tem inspiração no seriado Além da Imaginação e claras homenagens à transmissão de rádio da novela Guerra dos Mundos em 1938, que causou pânico nos Estados Unidos (saiba mais), ao pop e aos filmes B de ficção científica.



Formado por Diego De Léon (o zelador Almeida), Natália Leite (a blogueira Daisy), Tati Ramos (a delegada Nádia), Xiquito Maciel (o artista Mendes Castro), André Rodrigues (o cidadão de bem Peixoto) e Mateus Ferrari (o síndico Viera), o elenco do espetáculo está em ótima forma e sincronia, capturando a atenção do público do início ao fim da peça. Como sugestão, eliminaria o Peixotinho, e o substituiria por citações do pai ao que ele falou.


Chama atenção a criatividade da montagem dirigida por Diego De Léon, a forma de composição do cenário com objetos, luz, efeitos especiais, fumaça e coreografia de todos os atores, tornando a caixa cênica fluída em diversos momentos.


Monstros é uma peça muito criativa, diferente e bastante interessante, combinando humor, ficção científica, drama e crítica social. Merece ser prestigiada e assistida. Que tenha uma longa temporada e lote nossos teatros.


Parabéns à Cia Novos Candangos, que tem a força e a ousadia de fazer de teatro independente com qualidade em tempos que a verdade foi substituída pela opinião.

Agradecimento: Diego de Léon

Ficha técnica e reportagem: clique aqui

Fotos: Nityama Macrini



sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Direito ao Grito - Oficina Circo Íntimo (DF) - Sesc Garagem



A Oficina Circo intimo, com direção de Abaetê Queiroz (saiba mais) e Juliana Drumond (saiba mais), apresentou, como resultado do curso de iniciação teatral, a montagem da peça O Direito ao Grito, baseada no livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector (biografia).



O livro possui 13 títulos e conta a história da anti-heroína Macabéa, uma nordestina que vai atrás de seus sonhos no Rio de Janeiro (saiba mais).


 A CULPA É MINHA OU A HORA DA ESTRELA OU ELA QUE SE ARRANJE OU O DIREITO AO GRITO QUANTO AO FUTURO OU LAMENTO DE UM BLUE OU ELA NÃO SABE GRITAR OU ASSOVIO AO VENTO ESCURO OU EU NÃO POSSO FAZER NADA OU REGISTRO DOS FATOS ANTECEDENTES OU HISTÓRIA LACRIMOGÊNICA DE CORDEL OU SAÍDA DISCRETA PELA PORTA DOS FUNDOS



Por que escrever sobre iniciação teatral?

Primeiro, pela importância deste trabalho de fazer as pessoas viverem o teatro na pele, mobilizando familiares, se superando, cada um com o seu objetivo particular, para montarem e sentirem uma peça ser criada e apresentada. Um crescimento pessoal individual baseado no coletivo, conduzido por dois grandes artistas. Um respiro no mundo da arte, uma descompressão. Todos que participam de uma oficina desta jamais irão assistir uma peça, ver um filme ou ir a uma exposição da mesma forma que iam antes.


Segundo, pela importância do contato com Clarice Lispector, alguém de quem muito se fala e de quem poucos afortunados se aprofundam e mergulham na riqueza de sua obra. Assistir ao resultado, foi mais uma oportunidade de vivenciar por alguns minutos o que uma das maiores escritoras de todos os tempos nos deixou.


Quanto ao resultado da Oficina, tivemos uma noite bem interessante de soluções cênicas, riqueza de detalhes, teatro lotado e reflexões, com entrega e desprendimento dos atores, alguns com o objetivo apenas de se superarem em um palco, outros já brincando com a veia artística, impostando a voz e fazendo movimentos mais complexos na realização dos exercícios teatrais. As histórias de Clarice e a de Macabéa foram muito bem contadas e acredito que o objetivo da oficina foi atingido.


O mais importante é cada um ter vivido seu sonho e levar a mágica experiência de subir em um palco para toda vida!



Agradecimentos: Juliana Drummond (@drummondju) e Marcela Franco (@mmfosorio)

Ficha técnica: https://www.facebook.com/oficinacircointimo/ e @oficinacircointimo

Fotos do espetáculo: Luiz Finotti - @vivieluizfoto - (61) 99176-7107












quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

João, o Alfaiate, um herói inusitado – Etc e Tal (RJ) – Teatro do Brasília Shopping - DF


Conheci o Etc e Tal em 2007, em Belém. Assisti, na ocasião, duas peças de seu repertório adulto: Fulano&Sicrano (link) e No Buraco (link), desde então nunca mais perdi uma oportunidade de presenciar a arte viva e em movimento do grupo, que completou 26 anos ininterruptos apresentando seu repertório com assinatura e marca própria (site do grupo).


Joao, o Alfaiate é uma peça que embora seja aparentemente infantil alcança de forma surpreendente todas as faixas etárias. Em cena, um incauto alfaiate que por acaso é apresentado pelo Bobo ao Rei, que vê nele a chance de salvar seu reino. 


Interessante observar as atuações incríveis do grupo: a do alfaiate (Alvaro Assad) que costura sem linha, mas você vê a linha; que não fala, mas você o vê falar. A do Bobo (Melissa Teles-Lôbo) que flutua no palco e faz a condução das cenas, que também sem dizer uma palavra, diz tudo. E a do Rei bonachão (Márcio Moura) que com sua falastranice e egoísmo, faz público rir muito e refletir, sobretudo sobre as questões sociais de se entregar ingenuamente a um soberano.


Com exercícios cênicos diversos, o grupo consegue inserir o público em uma viagem de carroça, em um pesadelo, dentro de um castelo, dentro de uma alfaiataria e até mesmo dentro de um lago. Eles são mágicos. Os magos da mímica e da linguagem corporal. Garantia de diversão, reflexão e gargalhadas.


O cenário, bastante funcional, é um livro com diversas páginas que se abrem, dando vida e forma à imaginação. Em cada detalhe, se observa visível cuidado e delicadeza, assim como ocorre com o perfeito figurino, a maquiagem e a caracterização das personagens. As músicas originais em tom medieval, criadas para o espetáculo, complementam as personagens; impossível esquecer o Bobo dançando em sua leveza e graciosidade. A sonoplastia sincronizada com as atuações mostra o bem feito trabalho de direção.


Parabéns pelo alto nível permanentemente mantido ao longo dos anos, fazendo ser uma companhia sólida, consagrada e reconhecida como referência internacional. Registro para os diversos e merecidos prêmios recebidos pelo espetáculo em várias categorias: ZILKA (confira), CBTIJ (site) e São Paulo.


Agradecimento: Alexandre Aquino - @xandeaquino

Ficha técnica: clique aqui

Fotos: Divulgação

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Dicas culturais em Brasília - DF Dezembro/2019

Vinícius
Teatro Mapati
20 e 21/12/2019
Link do evento



Monstros
Sesc Garagem - 05 a 08/12/2019
Teatro Goldoni - 13 a 15/12/2019
Link do evento




Rinoceronte
Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul
29/11 a 08/12/2019


Atrás das Paredes 
CCBB - DF
 28/11 a 08/12/2019
Link do evento
Crítica teatral

João, o Alfaiate - Um héroi inusitado
Teatro do Brasília Shopping
07 e 08/12/2019
Link do evento
Crítica teatral


Resultado de imagem para ESPETÁCULO COISA DE VIADO
Coisa de Viado
Imaginário Cultural Samambaia
05 a 08/12/2019
Link do evento



Enluarada, uma Epopeia Sertaneja
Sesc Garagem
13 a 15/12/2019
Link do evento


O Mambembe
Teatro de Rua
02 a 05/12/2019



1ª Mostra de Mulheres Brincantes do DF
Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul
06 e 07/12/2019
Link do evento


O Rei do Show
Funarte
14 a 15/12/2019



Malala, a menina que queria ir para a escola
Caixa Cultural Brasília
13 a 15/12/2019
Link do evento


Vamos comprar um poeta
CCBB-DF
12 a 22/12/2019 e 02 a 12/01/2020
Link do evento


O Direito ao Grito
Sesc Garagem - DF
10 a 12/12/2019
@oficinacircointimo



Programação completa dos espaços culturais de Brasília:
Sites de compra de ingressos:


Blogs de Crítica Teatral  e de Teatro:
Cricri em cena

domingo, 1 de dezembro de 2019

Arandu, Lendas Amazônicas – Adilson Dias (RJ) – CCBB-DF


Antes do teatro existir, já existia a contação de histórias, a tradição herdada por gerações e gerações através da oralidade, a passagem de conhecimento e sabedoria, cujo significado no dialeto tupi-guarani é Arandu.



Arandu é um belo, lúdico e delicado espetáculo de contação de histórias sobre lendas amazônicas. Em sua aparente simplicidade reside a magia que nos transporta à floresta amazônica para ouvir uma indígena (Lúcia Morais) nos contar o que ouviu de sua avó na beira do Rio Amazonas. 


A ancestralidade viva no palco, envolta em poesia visual e cênica, as lendas amazônicas tomando forma, pessoas, árvores, rios e animais sendo imaginados, visões sendo formadas na mente de cada espectador, das crianças aos adultos, todos encantados em uma verdadeira viagem imaginativa e espiritual.


Em cena são contadas de forma intimista as lendas amazônicas do dia e da noite, da vitória-régia, do açaí e da fruta amarela. Cada uma com sua beleza e peculiaridade, contadas pela carismática e espirituosa Lúcia Morais, que conduz o público pela floresta e convida ao exercício de vivenciar as histórias.


A pesquisa e a direção da peça são assinadas por Adilson Dias. Percebe-se no palco um trabalho muito interessante para incorporar de forma cênica o gestual indígena à contação de histórias e um cuidado muito grande com a pesquisa das lendas e com a pesquisa musical, com a sonoplastia e a iluminação, além de um grande respeito à arte e aos nossos povos originários.


Além do talento e da curiosidade que move um grande artista, Adilson Dias tem uma história de vida de superação e busca pelo conhecimento que é uma fonte de inspiração (veja a história de vida de Adilson Dias). É uma honra conhecê-lo. Minhas sinceras homenagens e meus parabéns.

Agradecimento: Adilson Dias e Marta Paiva

Ficha técnica e reportagem: clique aqui

Fotos: Divulgação