Antes havia vida, colorida, brilho. Havia afeto, paixão, amor, sexo. A vontade de viver plenamente pode, aos poucos, se transformar em auto anulação, em um desaparecimento contínuo. Um jogo, uma jaula; o que protegia e preenchia se torna algoz. O desenho do fim, descolorir-se. Em cena, o gaslighting, a asfixia psicológica que corrói a própria identidade.
João Côrtes se joga no abismo, ocupando o palco com energia e sutileza; e quanto mais se ilumina e brilha, mais fica invisível. O trabalho de ator surpreende, pelo grau de dificuldade de atuar, contracenando com sons e luzes, enquanto interpreta personagens antagônicos na mesma cena. Um ágil duelo de uma homem só, presa e predador. Um trabalho corajoso que requer técnica e condicionamento apurados.
A dramaturgia de Moisés Bittencourt disseca a anatomia de um relacionamento abusivo, personificado na relação entre Eduardo e seu namorado, Michel; fazendo do público testemunha de quem já não encontra seu reflexo no olhar do outro, e sim apenas dúvida da própria existência. A iluminação contracena com a trilha sonora, sincronizadas e bem executadas, criando a sensação de imersão, fazendo se perceber a habilidade do ator e dos respectivos profissionais cênicos e o cuidado da direção de Fernando Gomes e da diretora de movimento Ana Magdalena.
Invisível é um espetáculo frenético e de necessário incômodo, sem fácil redenção e sem aplauso que alivie a angústia. Nos perguntamos quantos vezes já nos invibilizamos, já invibilizamos alguém ou vimos espectros vagando por aí. Um grito sufocado de alerta para olharmos com mais atenção, não apenas para o vazio, mas para as relações que o alimentam.
Instagram da peça
Fotos: divulgação
Agradecimento: Rodrigo Machado (Território Comunicação)
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