MA CA COS!!! MA CA COS!!! MA CA COS!!!
O
eco de Clayton Nascimento, um gigante dos palcos e da vida, reverberou
novamente, agora em uma caixa cênica possível dentro da pandemia, em um importante
festival transmitido via Youtube, nos mostrando na adaptação da peça integral, com
a mesma força de uma apresentação presencial, a face perversa do nosso país sob
o olhar da negritude.
Em tom de manifesto e desabafo, nos entrega relatos pungentes, denunciando o genocídio do povo negro em uma nação que fez a opção oficial pelo esquecimento e pela busca de uma hipócrita, falsa e conveniente paz branca, chegando ao cúmulo deixar isso registrado em seu Hino da proclamação da República (Hino), ocorrida menos de dois anos após a abolição oficial da escravidão.
A
peça traz questões históricas como o branqueamento artificial de Machado de
Assis, os 388 anos de escravidão oficial e suas consequências até o momento insuperáveis,
bem como nos mostra a realidade atual da Segurança Pública, criada no Rio de
Janeiro em 1808 para proteger a corte (saiba mais) e que perpetua as desigualdades e o preconceito com violência e opressão,
matando dentro de casa, de forma covarde, proibindo crianças negras de sonhar, tornando
o extermínio do Povo Negro uma política institucional.
Além das questões de violência explícita, a peça traz reflexão sobre as leis de educação no Brasil, que não permitiam que o povo estudasse. Importante, também, refletir sobre a representatividade da cultura negra, que precisa ser objeto de estudo nas escolas fundamentais em uma luta contra o eurocentrismo até hoje vigente.
Fica
evidente que precisamos contar nossa história de forma digna, diversa e plural ,
resgatando personagens importantes e “esquecidos” por terem lutado contra o
sistema vigente, como Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar (biografia)
e João Cândido, o Almirante Negro (biografia).
Também precisamos saber que chicoteavam pessoas por diversão em praças públicas
e que temos o dever de mostrar que diversos patronos de instituições atuais eram
racistas genocidas declarados, como Paulo Fernandes Viana (patrono da Polícia) e
Duque de Caixas (patrono do Exército).
O
teatro como arma assusta e afronta a elite quando encanta e alimenta o povo de
conhecimento. E como é bom saber que existem atores como Clayton Nascimento,
que me faz lembrar Abdias Nascimento, autor do clássico O Genocídio do Negro
Brasileiro (sobre o livro),
sempre deixando o público perplexo e hipnotizado com sua interpretação visceral
e intensa.
A peça se encerra com o relato da mãe do menino Eduardo de Jesus, morto pela PM-RJ enquanto brincava em casa (reportagem), Senhora Terezinha Maria de Jesus, que até hoje luta por justiça contra os assassinos de seu filho.
E eu encerro o texto com dois poemas, um com um assunto
que precisamos lutar para mudar e com outro que precisamos sempre buscar. A Paz
e a História não podem ser apenas brancas.
Os alvos
Os alvos não são
alvos, sendo alvos ou não.
Os alvos da polícia
não são alvos, sendo alvos ou não.
Os alvos da polícia
não são alvos quanto ao tom de pele, sendo alvos ou não.
Os alvos da polícia
não são alvos quanto ao tom de pele, sendo alvos ou não quanto as atitudes e
comportamento.
Alvo tem diversos
significados, mas insistem que ele seja um só.
Rodrigo Ferret –
22/06/2020
Djanira
Retiraram do salão
teus nobres Orixás
Os exilaram no porão
Teu quadro virou
reserva técnica
Arquivado
Sua poesia em tinta
Teu modernismo transcendente
Não faz diferença aos
indiferentes
Enquadrados
Os Orixás
As religiões de
matrizes africanas
Perseguidos pela pequenez
da casa grande
Limitada
Tudo isso vai passar
Teu quadro rodar em
exposições pelo país
A cultura africana
estudada e respeitada
Honrados
Rodrigo Ferret –
03/09/2020
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