Depois do Silêncio funde dança e teatro, som e silêncio, afeto e conflito, gesto e fala, simplicidade e complexidade, luz e escuridão; bilíngue, não só no se expressar em libras e português, mas pelas fusões, tocando em temas urgentes como inclusão, acessibilidade e respeito.
O espetáculo é fruto de uma pesquisa intensa dos diretores e atrizes sobre a vida da escritora e filósofa Hellen Keller (saiba mais), surda e cega, que transformou sua vida após o encontro com a professora Anne Sullivan, há cerca de 100 anos, que a ensinou a se comunicar por meio do tato.
De grande força cênica, Depois do Silêncio se destaca pela tradução dos sentimentos em movimentos corporais, de imensa beleza plástica, na qual o corpo desenha a cena, como uma tela, trazendo emoções e sensações ao público. A trilha sonora aparentemente perturbadora para os ouvintes, mostra como os não ouvintes sentem o som, a vibração, a marcação, tudo é aproveitado na dança, que se completa com as formas visuais ao fundo, em um grande mergulho no mundo silencioso, mas muito sensorial.
Naira Carneiro impressiona com a consciência corporal ao interpretar a jovem surda e cega, desde o seu nascimento, mergulhando e levando o público junto na jornada. Camila Guerra traz todo seu talento e força do seu teatro, para interpretar a professora que aceita o maior desafio da sua vida, mostrando que além de excelente atriz, com uma carreira sólida, também se destaca na arte de dançar, fazendo um dueto belo e emocionante com Naira, duas mulheres fortes como as personagens. A participação da atriz Renata Rezende, surda, contribui muito para a formação do espetáculo com a sua vivência para a elaboração do espetáculo e seu carisma com o público, além de traduzir o espetáculo em libras, mostrando, também, toda sua força e talento.
A direção e pesquisa de Eliana Carneiro e Rogero Torquato são muito cuidadosas e bem trabalhadas, dando protagonismo aos corpos cênicos, que dançam e emocionam o público nessa viagem pela comunicação que parecia impossível aos mais céticos.
Impossível não fazer um paralelo da bela e inspiradora história encenada e dançada de forma tão rica e linda na nossa frente com o retrocesso inspirado nos últimos tempos, que teve seu ápice de estupidez, ignorância, perversidade e covardia com a fala de quem está ocupando o cargo de Ministro da Educação, em uma entrevista para um canal estatal, prestando o desserviço de dizer que há crianças com grau de deficiência que é impossível a convivência (veja aqui). Fala acompanhada de políticas públicas segregacionistas (veja aqui). Ainda bem que a professora Anne Sullivan, mesmo há 100 anos atrás, já estava à frente de pessoas assim e possibilitou sua aluna se tornar uma ativista mundial pelos direitos das pessoas com deficiência, exemplo de respeito, superação e desafio.
A pandemia não acabou, mas a Arte segue viva e pulsando, expandindo, que Depois do Silêncio ganhe os palcos em festivais e apresentações, mostrando essa linda história de inclusão, contada de forma poética, visceral e mágica, emocionando o público por onde passar.
Trailer: clique aqui
Fotos: divulgação
Instagram do movimento: clique aqui
Ficha técnica do festival e programação completa: MID
Agradecimento: Max Lage
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