Nosso quintal radioativo, ar de tragédia. A salvação pelos antigos. Redenção e reparação. Não se assuste, é uma peça sobre nós, aqueles que ou vão morrer ou envelhecer; sobre nós, os que herdaram e os que vão deixar heranças e legados, histórias e caos. Mas, não se assuste, é uma história sobre nós, moradores temporários desse lugar. Estar e não estar. Permanecer. Sumir. Se doar. Um passado que já não é. Um futuro que ninguém sabe que será.
Reclusos em local distante, um casal de físicos nucleares aposentados recebe a visita de uma antiga amiga de trabalho, que os convida para algo inusitado: salvar as gerações que chegaram depois. Um triângulo escaleno que busca viver, se divertir e colocar suas questões em dia, antes do ato heroico. A vida vivida e não vivida que passa em cena, os destinos de nossa casa, as questões corriqueiras e urgentes que vão nos submergir.
As Crianças é um espetáculo que cresce a medida que o tempo em cena transcorre, entre boas conversas, danças, brincadeiras, pequenos prazeres; e, a certa medida, não termina nos aplausos, mas nas reflexões que povoam a mente do espectador. Em cena, contemplamos a história viva do Teatro, no elenco composto por Analu Prestes, Mario Borges e Stela Freitas, atores premiados, que funcionam como engrenagens e nos mostra a força e o poder de transformação da Arte. Como não vidrar os olhos neles em cena e não resgatar memórias afetivas de personagens memoráveis da TV, como Irinéia de Tamanho Família.
A opção do diretor Rodrigo Portella por uma montagem minimalista que projeta o cenário na mente do espectador, por meio da fala das rubricas, converge com as questões abordadas como consumo desenfreado e uso abusivo dos recursos naturais. Em cena, pouca cenografia, mas muita atuação e muita imaginação, se completando e formando a imagem em cada um. Um Teatro vivo, que salta em nossos olhos.
Multipremiada, a montagem estreou em 2019, foi interrompida pela pandemia e voltou aos palcos para continuar ousando, mostrando que nunca abandonaremos nossas crianças enquanto a Arte pulsar. “Eu não sei querer menos.” Nem eles.
Instagram da peça: As Crianças
Fotos: divulgação
Agradecimentos: Rodrigo Machado e Celso Lemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário