segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Nastácia – Caixa Cultural Brasília

    Os atores como objetos na entrada e um cenário que é uma instalação artística, uma peça que se inicia antes do terceiro sinal. O público senta. Nastácia corre. Mulher objeto. E lá estamos, no jantar preparado por Nastácia (Flávia Pyramo), o enigma em forma de mulher. A beleza como chaga. Olhar de cortesã. Olhar de quem já sofreu tudo que poderia ter sofrido nessa vida. Ela nos encara. 

    A partir daí temos duas possibilidades de se assistir a peça: a partir da obra de Dostoiévski ou a partir de uma inspiração recortada das páginas de O Idiota, sem qualquer pretensão de ser uma adaptação, mas a utilização de uma grande personagem para um manifesto contra a violência contra a mulher. Apesar de não serem possibilidades que se anulam, a primeira se definha pela opção da dramaturgia em retirar o horror e a brutalidade do clássico, ao tangenciar a comédia e a caricatura das personagens, a escolher praticamente retirar de cena o humanista e epiléptico príncipe Míchkin e, principalmente, ao buscar redenção no trágico. Fica a provocação, a essência crua do livro não teria mais impacto que o manifesto?

    A segunda possibilidade é desafiadora: arrancar das páginas de "O Idiota", uma complexa personagem feminina e dar-lhe o protagonismo. Estamos em sua festa, na noite fatídica em que seu destino será decidido por homens: Totski (Chico Pelúcio), o oligarca que a tomou como concubina na adolescência, agora a oferece em casamento a Gánia (Lenine Martins), como quem descarta um objeto. Presenciamos uma mulher que apesar de sofrer todos os tipos de violência, abusos e humilhações, se recusa ao papel de vítima, buscando ecoar sua voz e não aceitar a opressão, sendo ainda dominante, altiva e sedutora. A peça é uma clara e necessária denúncia contra o machismo, a misoginia e o feminicídio. 

    Em relação a parte técnica, na apresentação teve um problema no vídeo, que incomodou, retirando da cena um componente importante, que é a videoarte que revela vídeos e nomes de vítimas. Outras questão foi a iluminação, que apesar de momentos de muita qualidade artística, quando um personagem se olha no reflexo da água, peca em pequenos atrasos e também não se potencializa na cena da lareira.

    Algo que se percebe, também, é que a peça funciona mais em um local intimista, no qual o público esteja ao redor do palco, do que em teatros tradicionais com palco italiano e plateia; a ideia é de que o espetáculo foi feito para ser potencializado naquele tipo de ambiente, com o público dentro da festa de Nastácia.

    Também é perceptível que os atores estão presentes de corpo e alma no projeto, cada um se doando ao máximo em cada cena.

    No mais, a peça idealizada por Flávia Pyramo vem sendo aclamada e na qual é recorrente ver relatos de espectadores emocionados refletindo a condição feminina neste mundo, demonstrando que o Teatro é sempre válido e importante, ainda que o caminho escolhido pela montagem não seja o abismo de Dostoiévski.


    

    Ficha técnica

    Instagram da peça

    Fotos: divulgação

    Vídeo sobre Nastácia no Festival de Avignon (França)

    Agradecimento: Rodrigo Machado (Território Comunicação)

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Dicas de Teatro em Brasília, Setembro/2025


Teatro Unip - 913 sul
18 a 21/09/2025



Diversos espetáculos em diversos locais
26/08 a 07/09/2025 


 

CAIXA Cultural Brasília
05 a 14/09/2025




CCBB Brasília
03 a 21/09/2025




Venâncio Shopping
05 a 07/09/2025




Sesc Gama - 04 a 06/09/2025
Sesc Taguatinga - 23 a 25/09/2025




 Sesc Brasília (Presidente Dutra) - SCS
05 a 06/09/2025




Teatro Mapati - 707 Norte
05 e 06/09/2025




Teatro Brasília Shopping
06, 13 e 20/09/2025





 Escola Parque 308 Sul
06 e 07/09/2025





Teatro Unip - 913 sul
06 e 07/09/2025





Ermida Dom Bosco
06/09/2025





Centro Tradicional de Invenção Cultural - 813 sul
07 a 14/09/2025



Teatro de Sobradinho - Quadra 12
13 e 21/09/2025




Teatro dos Ventos - Águas Claras
12 a 14/09/2025




CAIXA Cultural Brasília
16 a 18/09/2025




Casa dos Quatro - 708 Norte
17 e 18/09/2025




Sesc Gama (DF)
21/09/2025



Sesc Gama (DF)
26 a 28/09/2025


Complexo Cultural Samambaia, 23 e 24/09/2025
Sesc Silvio Barbato (Setor Comercial Sul), 26 e 27/09/2025, 03 a 05/10/2025





Teatro Unip - 913 sul
26 a 30/09/2025




 Teatro Nacional Cláudio Santoro
26/09/2025




Espaço Cultural Renato Russo - 508 sul
27 e 28/09/2025










Parceiros:



Pedidos, dicas, patrocínios e sugestões:
WhatsApp: 61-982465903




 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Dicas de Teatro em Brasília, Novembro/2024

 




Espaço Cultural Renato Russo 1° e 2/11/2024
Teatro Paulo Gracindo - SESC 06/11/2024
Teatro Paulo Autran - SESC Taguatinga 12/11/2024
Teatro Newton Rossi - SESC 14/11/2024
Complexo Cultural de Planaltina 19/11/2024



Agora a Inês é Morta
02/10 a 12/11/2024 (Quartas e Quintas) - Temporada prorrogada
Teatro Brasília Shopping



Espetáculo Bala Perdida
Espaço Cultural Renato Russo
1° a 03/11/2024





Teatro da Caesb - Águas Claras
1/11/2024




 Teatro Mapati
1° e 02/11/2024




Sesc Estação 504 Sul
1° e 03/11/2024




Escola Parque 308 Sul
03/11/2024



Festival Internacional de Teatro de Brasília
05 a 17/11/2024







Joana
 Espaço PÉ DiReitO
08 a 10/11/2024



Teatro da UNIP
09 a 10/11/2024





Centro de Convenções Ulysses Guimarães - Auditório Master 
09 e 10/11/2024





 Complexo Cultural de Samambaia
21 a 22/11/2024



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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Hannah Arendt, Uma Aula Magna – Eduardo Wotzik – CCBB Brasília

    Hannah Arendt acaba de chegar da nuvem, para uma Aula Magna. Barba e salto. Teatro. Teatro de Autor. Autor, Ator e Diretor. Homem de Teatro. Gente de Teatro. Teatro. Arte do Encontro. Arte de nos encontrar com os outros e com nós mesmos. Teatro. Cinco anos após o ensaio aberto que deu início às investigações para composição do espetáculo, aqui estou novamente, vendo em que a obra que vi dar seus primeiros passos se tornou. Teatro. 

    O espetáculo convida o público a refletir sobre a mediocridade que a vida nos impõe no cotidiano e a falta de pensamento crítico na sociedade. Com seu humor peculiar, Hannah chama atenção deste mundo cínico contando algumas histórias sobre este mesmo mundo de pessoas de pequenas éticas e etiquetas, onde homens simples e comuns são capazes de cometer as maiores barbáries. 

    Um ponto crucial da peça é o julgamento do nazista Adolf Eichmann, presenciado por ela, que resultou em um dos seus principais conceitos da obra de Hannah, a Banalidade do Mal. Lá, não viu monstro sanguinário, mas um funcionário, incapaz de refletir sobre seus atos, praticados pelo manto da burocracia, um medíocre. Quantos Eichmanns estão entre nós? Quanto de Eichmann temos em nós? Qual o limite e os riscos de banalizar o mal? Qual a importância da educação e do pensamento? 

    Tecnicamente, a Aula funciona muito bem, imersa em teatralidade, mantendo a energia do início ao fim, com algumas pausas entre indagações e reflexões, para que os alunos tomem fôlego para seguir. Tudo é bem cuidado, o figurino, o cenário, a luz e o som. E, assim como Hannah chega, se vai; mas permanecendo dentro de nós, seres humanos, seres políticos, semeando o pensar, o pertencimento, a educação e a cidadania. Saímos mais atentos e alertas do que entramos.

    Importante falar sobre Eduardo Wotzik; Homem de Teatro com 46 anos de carreira, fundador do Grupo Tapa, estudioso e investigador do Teatro. Autor, Ator, Diretor e Produtor que mantém sua Arte renovada a cada trabalho, que se inicia sempre de uma ideia original e é montada partindo do zero até chegar aos palcos e ser sucesso, como acontece aqui e com Missa para Clarice. Um Artista brilhante e incansável, com muita história em cena e com muito a contribuir para o nosso Teatro. 



      Ficha técnica: clique aqui

      Instagram da peça: clique aqui

    Reportagem sobre a Mostra  Encontro com Eduardo Wotzik – 40 anos investigando o Teatro, Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro: clique aqui

      Entrevista com Eduardo Wozik: clique aqui

   Agradecimentos: Rodrigo Machado (Território Comunicação) e Renata Rezende.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Um Beijo em Franz Kafka – Teatro UNIP


    O cenário grandioso e imponente nos ambienta na Praga de 1924, ano do falecimento de Franz Kafka, os sonhos e imagens, as páginas que voam, a imaginação que viaja, as páginas espalhadas pelo palco e o baú onde se guarda uma obra inteira. Em cena, uma das maiores e mais belas amizades da literatura: o renomado post mortem Franz Kafka e Max Brod, o amigo leal e fiel que cuidou de sua amante mais celebre, admirando-a e a divulgando-a ao redor do mundo, contrariando o testamento do autor, que determinava queimar todos os seus manuscritos não publicados, entre eles Carta ao Pai, o Processo e o Castelo.

    

    Inspirada em cartas trocadas com Max e textos de Kafka, a peça se desenvolve na atmosfera kafkiana, mostrando também o lado boêmio e divertido do grande escritor, com trilha sonora ao vivo em acordeon e piano, dando o tom da noite, muito bem acompanhada por um bailarino que representa personagens e pensamentos do universo de K e da vida de Kafka.


    Um espetáculo cuidadoso e delicado que mostra a última batalha de um homem que gostava da vida apesar de tudo, prestes a se despedir ao encarar uma doença incurável e sua sentença final. Um homem que batalhava com as letras e agora com as tosses e calafrios, mas se sentia derrotado em ambas as lutas. Um gênio que, para sobreviver, trabalhou escrevendo relatórios de sinistro em uma Companhia de Seguros; um gênio que, para que sua obra sobrevivesse e chegasse até a humanidade, dependeu de uma amizade verdadeira.

    Em cartaz desde 2018, a dupla de atores, Maurício Machado e Anderson Di Rizzi, consegue dar leveza e poesia a um momento fatal. É visível a paixão e o carinho de ambos para com a obra de Kafka. O texto de Sérgio Roveri consegue deixar o público alerta e curioso durante toda a peça, misturando elementos da realidade, da ficção e dos sonhos. A direção de Eduardo Figueiredo consegue fluir e elevar a peça, dialogando com o alto nível da montagem, que segue crescente até final. Tudo impressiona: o visagismo, a maquiagem, a técnica corporal, a música, o cenário, os figurinos, a iluminação e o tom sépia, retrato da época. 


Esperança há, não para nós.


    Ficha técnica: clique aqui

    Fotos: divulgação

 Agradecimentos: Deca Produções e Rodrigo Machado (Território Comunicação)