O Festival de cenas curtas ¼ de cena é uma importante mostra competitiva que visa estimular e incentivar a produção de trabalhos independentes. Dois anos após a primeira edição, o festival recebeu a inscrição de 48 trabalhos e selecionou 12 cenas, com linguagens variadas, teatro, dança, performance e circo, que são apresentadas em 15 minutos, 4 por noite. Após as apresentações é aberto o debate ao público.
Nestes tempos estranhos que
vivemos, coube perfeitamente a utilização da pedra como símbolo do festival,
que recebe uma exposição do artista plástico convidado Lourenço de Bem. A pedra é resistência que forma com
outras pedras um rochedo intransponível. Este ícone remete ainda à mitologia grega, na figura de Sísifo, condenado por toda a eternidade, a rolar
uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha e ao atingir o
topo, ver a pedra rolar novamente montanha abaixo até o ponto de partida, como
os profissionais da arte, que lutam, se empenham, nunca desistem, mas muitas vezes
sentem o peso de ter que repetir, fracassar, repetir, fracassar...em uma luta eterna.
Fui ao terceiro dia do
festival, no sábado e assisti três cenas: Hábraços, Manifesto Trev(Eco)-Ciborgue
e Fracasso Coreográfico, além do curta O Pequeno Chupa-Dedo, cuja cena venceu a
1ª edição da mostra.
Hábraços é uma cena do grupo Pés,
Teatro-Dança com pessoas com e sem deficiência, apresentada por Mari
Lotti e Roges Moraes. Ele cadeirante. Dois dançarinos. Que nos fazem enxergar somente a arte, independente da condição física. Com almas leves, corpos
poéticos, que se completam em cena, em uma dança perfeita, mostrando a
dicotomia entre o afeto e o desafeto, o encontro e o desencontro. As trocas
entre o par, que encerram de forma comovente e bela, mostrando que sempre fica
algo de um no outro, inclusive entre os artistas e a plateia.
Maria Léo Araruna apresentou a
cena Manifesto Trev(Eco)-Ciborgue. Baseada em uma pesquisa sobre os textos
Medéia, de Eurípedes e Manifesto Ciborgue, de Donna Haraway (http://ea.fflch.usp.br/obra/manifesto-ciborgue),
a cena faz uma analogia fantástica entre a condição trans e o mito da criatura ciborgueana,
um ser entre o orgânico e a tecnologia. Interessante a abordagem da questão da
artificialidade dos nossos corpos, baseada na classificação em gêneros que se
trata de nada mais que uma construção secular. Quem dita a norma? Quem faz as
regras? Quem classifica? Quem determina o que é natural ou não? Por que um
corpo cis é correto e um corpo trans não é? Essas diferenças não seriam a
base da violência transfóbica? De vidas desnecessariamente perdidas,
desperdiçadas. Que o eco do traveco ecoe. Que o respeito a pluralidade e a
diversidade não sejam artificiais.
A cena Fracasso Coreográfico, do
grupo Coletivo Tempos, foi apresentada por Rafael Alves. Uma dança rumo
ao abismo e ao fracasso. Mas um fracasso como potência, construtivo, um
aprendizado. Uma cena de incertezas no qual a queda é utilizada
como mola propulsora, para levantar, tentar, cair, levantar, tentar, cair. Se
jogar. De cabeça, de frente, de costas, de um lugar bem alto. Ficar em pé, por
mais que isso seja impossível por muito tempo, mas sempre tentar, buscar. Mesmo
que o tempo seja curto. Que ele voe. Que se esgote. Que deixe de ser tempo.
Sobretudo tentar.
Após a apresentação do curta
metragem, sucedeu um riquíssimo debate entre os artistas, o júri e o público
sobre as cenas apresentadas e sobre a questão de resistência mais que
necessária nos dias atuais, além de ideias para a busca de trazer público ao teatro.
Parabéns aos idealizadores, artistas, técnicos, colaboradores, patrocinadores e público. Foi uma noite linda, que nos dá esperança para continuar a carregar nossas pedras.
Um brinde a representatividade do festival, bem demonstrada na cena Hábraços que deixa claro que a arte é para todos e não para alguns, conforme bem disse Roges Moraes; na cena Manifesto Trav(eco) Ciborgue que dá voz e visibilidade a mulher trans; e na cena Fracasso Coreográfico apresentada por um artista negro da periferia.
Viva a Arte!!! Ela sempre vai vencer!!!
Parabéns aos idealizadores, artistas, técnicos, colaboradores, patrocinadores e público. Foi uma noite linda, que nos dá esperança para continuar a carregar nossas pedras.
Um brinde a representatividade do festival, bem demonstrada na cena Hábraços que deixa claro que a arte é para todos e não para alguns, conforme bem disse Roges Moraes; na cena Manifesto Trav(eco) Ciborgue que dá voz e visibilidade a mulher trans; e na cena Fracasso Coreográfico apresentada por um artista negro da periferia.
Viva a Arte!!! Ela sempre vai vencer!!!
Júri oficial: Ana Flávia Garcia,
Jonathan Andrade e Larissa Mauro.
Agradecimento: Janaína Mello (@ninjalokaproducao).
Fotos: Humberto Araújo (@humbertoaraujo).
Fotos: Humberto Araújo (@humbertoaraujo).
Ficha técnica do festival: https://www.facebook.com/events/teatro-garagem/14-de-cena-festival-de-cenas-curtas/1613812338653545/
Viva os artistas de Brasilia!!!!
ResponderExcluirViva!!! Obrigado, meu amigo!
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