Antes de mais nada, preciso dizer
que chegar a este texto foi um caminho longo, complexo, fantástico, que
terminou em deleite.
O Pirotécnico Zacarias é mais um
sonho montado pelo Grupo Giramundo (http://giramundo.org/):
a adaptação de cinco contos em uma intensa experimentação cênica em homenagem
aos 100 anos de aniversário do escritor da literatura fantástica Murilo Rubião,
construída em uma linguagem cênica inovadora e surpreendente que funde o teatro
ao cinema, numa experiência fluída e incrível.
A obra de Murilo Rubião se resume
a 33 contos (http://www.murilorubiao.com.br/vidabio.aspx),
iniciados nos anos 40, que se tornaram um legado da literatura brasileira,
principalmente no meio acadêmico. Apesar da pouca divulgação, seus textos têm um alto nível de sofisticação, sendo o único autor brasileiro que elaborou a
totalidade de sua obra literária dentro do fantástico, do absurdo. Embora
insólitos, seus contos tinham inspiração em sua vida, de escritor, jornalista,
jurista e funcionário público. Mas o autor esclarecia: “para ler seus contos
era necessário aceitar e não buscar a pura compreensão objetiva”. Seus contos
mostravam a angústia e a desilusão da condição humana em se resignar por não
ter por onde mais fugir, nos tirando do óbvio para refletir.
No teatro somos recebidos por um
Deus Mágico tocador de Teremim (https://pt.wikipedia.org/wiki/Teremim),
um boneco que nos traz ao mundo fantástico do autor, remetendo a homenagem do universo literário de Rubião. Para, em seguida, sermos presenteados pelas adaptações dos contos: O pirotécnico
Zacarias, O ex-mágico da Taberna Minhota, Teleco - o coelhinho, O bloqueio e os
Comensais.
Antes de assistir, é interessante que o público, para viver uma melhor experiência, pesquise sobre o autor e leia estes contos. A montagem é extremamente fiel, chegando a exatidão em
muitos pontos. É a materialização de uma imagem que se forma na mente do
leitor. Uma pequena diferença em relação aos contos é a utilização como protagonista
em todos os outros, de Zacarias, o pirotécnico, que a montagem também sugere de
forma sútil ser o próprio Murilo Rubião.
Tecnicamente é um espetáculo
perfeito, existindo una sincronia total entre os atores, vídeos, sonoplastia e iluminação,
bem como nas soluções cênicas para transições entre os contos. A interpretação memorável
de Antônio Rodrigues como Zacarias/Rubião, dando vida real aos contos absurdos,
é sensacional. A expressão corporal dos atores tem
uma beleza e uma precisão visíveis, fruto de muito talento e dedicação.
Parabéns ao Grupo Giramundo por
ousar sonhar, por trazer aos palcos de uma forma tão especial um autor despercebido pela mídia e do
mainstream, desconhecido do público em geral, incompreendido pela crítica, mas que mais de meio século
depois, se mostra atual e necessário ao entendimento do que somos, humanos.
Direção Geral e Roteiro Adaptado:
Marcos Malafaia.
Atores: Antônio Rodrigues, Beto
Militani, Camila Polatscheck e Fabíola Rosa.
Registro para a tradução simultânea em Libras na Sessão assistida.
Registro para a tradução simultânea em Libras na Sessão assistida.
Agradecimentos: Marcos Malafaia;
Carluccia Carrazza; e
Jaqueline Dias (Tato Comunicações).
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