Máscaras brancas contam a história de um país que deu certo para quem o projetou assim, um projeto longo e duradouro, baseado em opressão e sangue, máquina de moer. País que criminaliza a pobreza, a negritude, a brasilidade, que não cuida do seu povo. Consequência da herança colonial que até hoje está presente nas mentes e corpos, nas estruturas e nas leis, na falta de representatividade e na violência policial.
Contando a volta ao Carnaval da Escola de Samba local depois da pandemia e da derrota de um governo racista, anticultura e antipovo, tendo como pano de fundo a figura mítica do malandro, com toda a sua força e também fragilidades, a peça apresenta sete moradores da Comunidade Jardim do Éden, pessoas que dividem um lar assim como dividem suas vidas, lutas, ilusões, sonhos, falta de oportunidades e as pequenas alegrias e tragédias cotidianas.
Em um texto ágil e abrangente, a peça é uma profusão de emoções ao espectador que vai se enxergar em vários momentos e refletir sobre seu papel na sociedade, mexendo em memórias afetivas, convidando realmente o espectador a viver o momento, gerando debates em diversas questões sociais urgentes e importantes. Nota para o elenco, que passou por um processo de audição, continha atores e dançarinos, cada um dando sua contribuição para a peça: Madelon Cabral com sua voz, carisma e explosão; Aline Araújo com sua força e presença que impressionam; Regina Sant´anna com seu afeto maternal; Jéssica Gonçalves com sua dança; Anttonio Carlos com sua ancestralidade e espírito da peça; Du Oliveira com sua experiência e versatilidade; e Lucas Rosa com sua dança e voz.
Projeto de 8 anos de Anttonio Carlos, homem do Samba, a peça virou realidade há cerca de 6 meses nas mãos do Dramaturgo e Diretor Bruno Estrela, tendo um processo de pesquisa e montagem interessante, que contou com a criação de um lar fictício para os atores, que conviviam como personagens, gerando riqueza e veracidade ao texto e as cenas, que se desenvolvem com soluções que aproveitam o local.
Como o samba que permeia a vida, a história é encenada com música ao vivo, por músicos do samba da capital, André Gomes, João Baptista e Valério Gabriel, dirigidos por Fábio Lima, que também assina a direção musical, com vocal dos atores com músicas de ícones como Zé Kéti, Cartola, Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Alcione e Racionais.
Quantos Jardins do Éden existem? Lugares com nome de paraíso em que pessoas precisam lutar para sobreviver e buscar a felicidade do jeito que as permitem.
Quantos senhores negros de terno com um livro debaixo do braço existem? Pessoas que acham que estão fazendo o que entendem que é o correto mas que conhecem sua própria história do jeito que as permitem.
Ficha técnica: clique aqui
Instagram da peça: clique aqui
Canal da peça (com vídeos depoimento das personagens/atores): clique aqui
Fotos: Maurício Sant´anna
Nota: Após a peça, ocorreu um rico, belo e democrático debate, com vozes plurais e diversas.
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