Conhecimento encaixotado, preso em bolor de estantes empoeiradas, a solidão dos dias vazios de alguém que sempre pensou no que os outros iriam achar. O café coado para um, a música de um passado glorioso que nunca mais vai voltar, a teimosia e a dificuldade de se adaptar ao mundo que mudou tanto. Você já conheceu alguém assim?
Agora, sozinho, sem nada mais a fazer, apenas ir repousar e aguardar o destino que restou. Até que, como o ar que vem para oxigenar, o vento que vem varrer a poeira, aparece aquela pessoa que 20 anos atrás foi voar, por não ter mais um lar. Seu filho Cadu, agora Emma Bovary, a musa de Flaubert, uma drag queen, artista da noite, que veio acertar as contas, em busca de entender o por que de algo tão violento e estúpido vindo de um homem tão culto.
A Vela é um espetáculo delicado, que dialóga com a temática do preconceito, principalmente dentro de casa, o local que deve ser o mais acolhedor possível, mas nem sempre é. A peça acessa a memória afetiva do espectador, lembranças muitas vezes remotas e emoções profundas, mas ao mesmo tempo com bom humor, equilibrando as sensações, além de trazer identificação e reflexões sobre o que realmente importa e como é necessário se desarmar e se despir para entender o mundo enquanto a chama ainda arde.
A interpretação de Herson Capri é um presente ao espectador, deixando a impressão que ele está na sala de casa, tamanha a naturalidade, passando verdade a personagem, um ícone no nosso Teatro. A trilha sonora é passeio pela história da música, com Dalva de Oliveira, The Carpenters, Edith Piaf entre outros grandes nomes, cantada em grande parte ao vivo, pelo brilhante ator Leandro Luna, que traz muita sensibilidade ao filho do Senhor Gracindo. A direção é de Elias Andreato, que conduz a peça com muita leveza para tocar nesta ferida ainda tão aberta da sociedade, em um texto muito bem construído e surpreendente de Raphael Gama.
A sua vela ainda está acesa?
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Fotos: divulgação
Agradecimentos: Rodrigo Machado (Território Comunicação) e André Deca (Deca Produções).
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