O complexo e fascinante universo feminino de Clarice Lispector, materializado no palco, e, uma livre adaptação de contos da escritora que quando era antiga foi depositária do ovo, que pode amar um homem de Saturno e que questionou o “inquestionável” que enquanto for inventado não existe. Em uma bela homenagem às mulheres, como a obra de Clarice, feita por mulheres, para principalmente, mulheres e para os que querem mergulhar na alma feminina, Se eu fosse eu é um grande quebra-cabeças com recortes de textos clariceanos que se encaixam perfeitamente.
As atuações de Camila Guerra, Rosanna Viegas e Juliana Drummond dignificam o legado do eterno Hugo Rodas, que segue vivo em nosso Teatro. O trio com essência de palco e do feminino traduzem Clarice em suas nuances e questões existenciais, tanto em diálogos fluídos como em exercícios corporais e performances. O cenário funcional e dividido em três como as atrizes e os contos principais, se fundindo da mesma forma, em uma simbiose, muito bem arquitetada pela direção.
“Se eu fosse eu” parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova do desconhecimento. No entanto, tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.”
Alegria pura e legítima! Como é bom voltar a um dos templos do Teatro da nossa Capital, o Teatro da Caixa Cultural Brasília, após um longo e sofrido inv(f)erno!
Sobre o processo de Se Eu fosse Eu:
O projeto começou com laboratórios cênicos realizados na Casa abrigo da Ceilândia, em uma escola pública de São Sebastião e em outra da Estrutural. A ideia era divulgar a literatura de Clarice a partir de temas femininos que pudessem ser compartilhados. Sexualidade, aborto, maternidade e espiritualidade fazem parte desse universo. "O estímulo para entrar em contato com sua subjetividade que é um convite na obra de Clarice, um voo para dentro. Pedaços desses laboratórios entraram na dramaturgia. Então virou uma grande colagem de textos e a dramaturgia foi construída a partir desses contos", conta Camila Guerra.
Ficha Técnica e Instagram da peça: @claricescriativas
Fotos: Diego Bresani
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