Furacão, fenômeno, entidade, a força da figura humana Jorge Lafond pelo olhar peculiar de sua prima Aline Mohamad, em uma homenagem, um resgaste, uma peça de cura, partindo de uma carta póstuma de desculpa. Com direção de Rodrigo França. o espetáculo com muita representatividade preta e lgbtqia+, feito por profissionais pretos, ocupando os espaços, celebrando novos, tão necessários e urgentes caminhos da dramaturgia.
Contada da perspectiva da dualidade entre Jorge (Alexandre Mitre) e Vera Verão (Joa Assumpção) em diálogo com sua prima (Noemia Oliveira), a peça busca de uma forma não biográfica, mostrar a trajetória e a vivência de Lafond, um pioneiro, uma pessoa que rasgou o cânone da televisão brasileira, tão colonizada e cruel, em uma época que se normalizava a opressão, o preconceito e a hipocrisia em relação a corpos dissidentes.
O espetáculo utiliza bastante o recurso audiovisual, trazendo passagens da carreira do artista, entre elas ter sido madrinha de bateria e um triste acontecimento notório, ocorrido com o padre Marcelo Rossi, no programa do Gugu, pouco antes de seu falecimento, que escancarou toda herança colonial homofóbica e racista da TV, na qual foi solicitado que ele se vestisse como homem na presença do religioso celebridade da época, algo que marcou de forma triste e cruel sua caminhada.
Lafond foi muito maior que o ÊPA que ecoava nas noites de sábado na distante década de 90; foi um intelectual, formado em teatro, dança afro, balé clássico e educação física, uma pessoa empoderada, bem a frente de seu tempo, que conviveu muitas vezes com o isolamento, o sigilo, a ausência, em face de suas posições firmes e suas escolhas. Hoje é uma referência e um farol, seu legado está em cada pessoa, principalmente as homoafetivas, trans e/ou pretas que hoje estão nas telas ou em um palco, mesmo que essa pessoa não saiba.
Como Lafond faz falta e como seria bom que ele tivesse sido homenageado em vida. Na estreia em Brasília, a plateia saiu muito feliz e empolgada com o resultado da obra; de fato é um momento a se celebrar, pela questão representativa, pela força do teatro preto sendo erguido em espaços de poder. Para finalizar, entendo que ainda há espaço para a peça crescer em relação a atuação e energia das cenas, por se tratar de um espetáculo que precisa ter vida longa e atingir o maior número de pessoas, mostrando este legado tão importante.
Ficha técnica: clique aqui
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Fotos: divulgação
Agradecimento: Rodrigo Machado (Território Comunicação)
Entrevistas sobre a peça:
Rádio Band, Pretoteca, Cynthia Martins recebe Rodrigo França e Aretha Sadick
Band Jornalismo, Juliano Dip recebe Aline Mohamad e Diego do Subúrbio
Pheno TV com Alexandre Mitre e Aretha Sadick
Última entrevista de Jorge Lafond: clique aqui
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