Hannah Arendt acaba de chegar da nuvem, para uma Aula Magna. Barba e salto. Teatro. Teatro de Autor. Autor, Ator e Diretor. Homem de Teatro. Gente de Teatro. Teatro. Arte do Encontro. Arte de nos encontrar com os outros e com nós mesmos. Teatro. Cinco anos após o ensaio aberto que deu início às investigações para composição do espetáculo, aqui estou novamente, vendo em que a obra que vi dar seus primeiros passos se tornou. Teatro.
O espetáculo convida o público a refletir sobre a mediocridade que a vida nos impõe no cotidiano e a falta de pensamento crítico na sociedade. Com seu humor peculiar, Hannah chama atenção deste mundo cínico contando algumas histórias sobre este mesmo mundo de pessoas de pequenas éticas e etiquetas, onde homens simples e comuns são capazes de cometer as maiores barbáries.
Um ponto crucial da peça é o julgamento do nazista Adolf Eichmann, presenciado por ela, que resultou em um dos seus principais conceitos da obra de Hannah, a Banalidade do Mal. Lá, não viu monstro sanguinário, mas um funcionário, incapaz de refletir sobre seus atos, praticados pelo manto da burocracia, um medíocre. Quantos Eichmanns estão entre nós? Quanto de Eichmann temos em nós? Qual o limite e os riscos de banalizar o mal? Qual a importância da educação e do pensamento?
Tecnicamente, a Aula funciona muito bem, imersa em teatralidade, mantendo a energia do início ao fim, com algumas pausas entre indagações e reflexões, para que os alunos tomem fôlego para seguir. Tudo é bem cuidado, o figurino, o cenário, a luz e o som. E, assim como Hannah chega, se vai; mas permanecendo dentro de nós, seres humanos, seres políticos, semeando o pensar, o pertencimento, a educação e a cidadania. Saímos mais atentos e alertas do que entramos.
Importante falar sobre Eduardo Wotzik; Homem de Teatro com 46 anos de carreira, fundador do Grupo Tapa, estudioso e investigador do Teatro. Autor, Ator, Diretor e Produtor que mantém sua Arte renovada a cada trabalho, que se inicia sempre de uma ideia original e é montada partindo do zero até chegar aos palcos e ser sucesso, como acontece aqui e com Missa para Clarice. Um Artista brilhante e incansável, com muita história em cena e com muito a contribuir para o nosso Teatro.
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Reportagem sobre a Mostra Encontro com Eduardo Wotzik – 40 anos investigando o Teatro, Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro: clique aqui
Entrevista com Eduardo Wozik: clique aqui
Agradecimentos: Rodrigo Machado (Território Comunicação) e Renata Rezende.
Com um olhar sensível, atento e cirúrgico, há sempre uma entrega preciosa em suas críticas!
ResponderExcluir"Quantos Eichmanns estão entre nós? Quanto de Eichmann temos em nós?" Eis a questão!