sábado, 3 de junho de 2023

Monstros - Cia Novos Candangos - SESC Taguatinga/DF

     

        Apresentada em 2019, Monstros volta aos palcos. Eles sempre estão por aí.
    
     Tempos estranhos, sinais, estações de rádio sintonizadas de forma aleatória, luzes intermitentes, muita fumaça. A senha para percebemos que algo muitos estranho irá ocorrer. Mesmo em tempos estranhos, podemos ser sempre surpreendidos. Tudo pode acontecer. Somos brasileiros e sabemos disso, aqui a matéria-prima para ficção parece ser uma fonte inesgotável. 


Lady Laura, um prédio comum, no qual somos apresentados aos moradores, cada um com sua personalidade, peculiaridades e idiossincrasias, donos de seu micro reino domiciliar, agora todos expostos em uma reunião de condomínio. “Velhos desconhecidos” que terão a oportunidade de conhecer o que há de pior em seus vizinhos, em um clima tenso tomado pela paranoia de uma suposta invasão alienígena.



Com efeitos especiais e um cenário dinâmico, a “fake-ção científica” é inspirada no seriado Além da Imaginação, com homenagens à transmissão de rádio da novela Guerra dos Mundos em 1938, que causou pânico nos Estados Unidos, ao mundo pop e aos filmes B de ficção científica.




A peça tem seu ponto alto na atuações do elenco composto por Pedro Ribeiro (o zelador), Natália Leite (a blogueira), Tati Ramos (a delegada), Xiquito Maciel (o artista), André Rodrigues (o cidadão de bem) e Diego De Léon (o síndico), que conseguem transitar entre da comédia e leveza ao suspense e caos, capturando a atenção do público do início ao fim da peça, trazendo também reflexões sobre a vida em comunidade e classe social.




Monstros é uma peça muito criativa, diferente e interessante, que combina humor, ficção científica, drama e crítica social. Sua volta é um presente e mostra a força do Teatro independente e local, merece ser conhecida, prestigiada e assistida. Parabéns à Cia Novos Candangos, pela volta de Monstros e por manter a chama do Teatro acesa com força e a ousadia.



Instagram da Cia Novos Candangos: clique aqui

Fotos: Humberto Araújo

Carmen, a Grande Pequena Notável – CCBB/DF – Em cartaz até 11/06/2023


    Grandes personalidades merecem grandes homenagens, para que sua memória siga viva na mente de novas gerações. Adaptação do livro homônimo de Heloisa Seixas e Julia Romeu, premiado em 2015 como melhor livro não ficção pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, a peça bastante bibliográfica traz aos palcos a atmosfera dos anos de 1909 a 1955, contando, de maneira leve, divertida, sem passar por questões polêmicas da Era Vargas e também sem nostalgia, a trajetória da Pequena Notável desde seu nascimento.



    A história de Maria do Carmo Miranda da Rocha, Portuguesa radicada no Brasil desde criança, uma mulher muito a frente do seu tempo, o que não a poupou do machismo e da misoginia de uma infeliz sociedade patriarcal. Assim como levar o nome do país para o mundo não a poupou de críticas, nem de decepção ao voltar aqui. Mas que pela sua força conseguiu chegar mais longe do que qualquer um imaginasse e ter seu legado lembrado nos dias atuais.



    Dirigida por Kleber Montanheiro, o espetáculo é apresentado em forma de Teatro de Revista, com cenas dinâmicas e aceleradas, que retratam a forma de cantar de Carmen e o gênero teatral de sucesso da época, trazendo também o convento de freiras, a fábrica de chapéus, a Lapa, as ondas do rádio, o sucesso no Brasil no Cassino da Urca e o sucesso internacional. 


    Amanda Acosta incorpora Carmen Miranda em cada detalhe, da voz marcante à personalidade forte e aos trejeitos, demonstrando que abraçou o projeto como atriz e cantora, brilhando no papel, uma estrela. Jonathas Joba como o narrador e condutor da história apresenta uma emoção a cada cena, se doando e divertindo o público, chamando muita atenção à sua presença de palco e a essência do ofício de ator. O elenco composto por grandes atores (Daniela Cury, Gustavo Rezende, Gabriella Britto, Júlia Sanchez e Roma Oliveira) consegue ser harmônico e mostrar um trabalho de alto nível, bem cuidado, que nos faz imaginar por um momento estarmos presenciando o passado. A excelente banda (composta pelos músicos Maurício Maas, Betinho Sodré, Monique Salustiano e Fernando Patau) dá o tom durante toda a peça, participando das cenas de forma bem-humorada e divertida, atuando junto, elevando o espetáculo.

    O cenário é montado como letras e livros que conduzem as cenas, o figurino de época, baseado inclusive em criações de Carmen Miranda, começa no preto e branco no longínquo 1909 e vai se multicolorindo. Os detalhes são inúmeros, desde o chão com as famosas pedras portuguesas às frutas utilizadas nas roupas. Interessante, também, a utilização de anacronismo em algumas cenas, jogando com os contrates entre o período que viveu Carmen e a atualidade, levando o público ao delírio.

    Uma peça para todos os públicos, que busca também formar novas gerações de espectadores e leitores, ávidos e curiosos para acessar as memórias do nosso país.


    Ingressos: clique aqui

    Instagram da peça: clique aqui

    Agradecimento: Elisa Mattos (produtora local)

    Fotos: Divulgação

terça-feira, 23 de maio de 2023

Se Eu Fosse Eu – Agrupação Teatral Amacaca – Teatro da Caixa Cultural Brasília/DF

    O complexo e fascinante universo feminino de Clarice Lispector, materializado no palco, e, uma livre adaptação de contos da escritora que quando era antiga foi depositária do ovo, que pode amar um homem de Saturno e que questionou o “inquestionável” que enquanto for inventado não existe. Em uma bela homenagem às mulheres, como a obra de Clarice, feita por mulheres, para principalmente, mulheres e para os que querem mergulhar na alma feminina, Se eu fosse eu é um grande quebra-cabeças com recortes de textos clariceanos que se encaixam perfeitamente.


    Muito bem montada, a peça passeia pelos contos, amarrando cada fragmento entre ovos, maçãs, tabus, hormônios, sangue, carne e máquina de escrever (companheira inseparável), como a força, a reflexão, o emponderamento e a emancipação da Mulher, em uma viagem dentro do coração selvagem. A peça é contínua e vai se doando ao espectador como uma mãe ao mesmo tempo que faz explodir a quarta parede para ter prazer com ele, a maternidade e a mulher, o seio e a flor, o cuidado e o desejo.


    As atuações de Camila Guerra, Rosanna Viegas e Juliana Drummond dignificam o legado do eterno Hugo Rodas, que segue vivo em nosso Teatro. O trio com essência de palco e do feminino traduzem Clarice em suas nuances e questões existenciais, tanto em diálogos fluídos como em exercícios corporais e performances. O cenário funcional e dividido em três como as atrizes e os contos principais, se fundindo da mesma forma, em uma simbiose, muito bem arquitetada pela direção.


    “Se eu fosse eu” parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova do desconhecimento. No entanto, tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.”


    Alegria pura e legítima! Como é bom voltar a um dos templos do Teatro da nossa Capital, o Teatro da Caixa Cultural Brasília, após um longo e sofrido inv(f)erno! 

     Sobre o processo de Se Eu fosse Eu:

    O projeto começou com laboratórios cênicos realizados na Casa abrigo da Ceilândia, em uma escola pública de São Sebastião e em outra da Estrutural. A ideia era divulgar a literatura de Clarice a partir de temas femininos que pudessem ser compartilhados. Sexualidade, aborto, maternidade e espiritualidade fazem parte desse universo. "O estímulo para entrar em contato com sua subjetividade que é um convite na obra de Clarice, um voo para dentro. Pedaços desses laboratórios entraram na dramaturgia. Então virou uma grande colagem de textos e a dramaturgia foi construída a partir desses contos", conta Camila Guerra.

    Ficha Técnica e Instagram da peça: @claricescriativas

    Fotos: Diego Bresani

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Quando eu for mãe quero amar desse jeito – Vera Fischer, Mouhamed Harfouch e Marta Paret – Teatro Unip/DF

    Um jogo de xadrez de duas mulheres. De um lado, em sua decadente mansão, uma mãe dominadora e obcecada por seu filho, Dona Dulce Carmona faz planos para dar uma vida digna de sua classe social ao seu filho Lauro Carmona. Do outro lado, Gardênia, a herdeira de um império de porcas, parafusos e arruelas, que vê no noivo, a chance de conseguir o que quer. Um filho e futuro marido dividido em um tabuleiro que ele não joga.



    Uma obra ácida, com diversas críticas sociais que fala de algo sério e ao mesmo tempo é leve e divertida, engraçada e reflexiva, surpreendendo o público do início ao fim, com várias reviravoltas, em uma tensão constante e viciante, em um texto ágil e fluído de Eduardo Bakr e uma direção primorosa do premiado Tadeu Aguiar. 

    O espetáculo, que está há um ano e meio em cartaz e circulando o país, está bem maturado, sem falhas, uma verdadeira engrenagem, do figurino luxuoso que altera a paleta de cores na sequência das cenas, para marcar a personalidade e a fase das personagens, passando pelo cenário grandioso que tem a cor do ouro e a cor da guerra e do sangue da tragédia; à trilha sonora original e à iluminação que acentuam as nuances do jogo.


    Vera Fischer impressiona com tamanha vitalidade e força no palco, uma atriz apaixonada, com brilhos nos olhos, que se renova e se experimenta sem medo, em uma atuação memorável e hipnotizante que passeia por vários gêneros teatrais. Mouhamed Harfouch leva o público ao êxtase na pele do bonachão Lauro Carmona, com o tempo perfeito da comédia. Nota para a versatilidade e trabalho de personagem, bem como para a paixão do ator pelo Teatro em seu agradecimento e apelo ao público ao final. Marta Paret faz o contraponto e o encaixe perfeito como a nora da matriarca, em uma ótima atuação.



Quando eu for mãe quero amar desse jeito é um presente ao espectador!


    Importante celebrar a volta do Ministério da Cultura e o trabalho da Deca Produções que está produzindo diversos espetáculos com artistas consagrados do Teatro para nossa Capital.


    Ficha técnica:

    Texto: Eduardo Bakr

    Direção: Tadeu Aguiar

    Elenco: Vera Fischer, Mouhamed Harfouch e Marta Paret

    Cenário: Natália Lana

    Figurino: Ney Madeira e Dani Vidal

    Desenho de luz: Daniela Sanchez

    Trilha sonora original: Liliane Secco

    Assistência de direção: Flavia Rinaldi

    Produção Executiva: Edgard Jordão

    Coordenação de produção: Norma Thiré

    Produção em Brasília: DECA Produções 

    Assessoria de imprensa Brasília: Território Comunicação

   

    Fotos: divulgação

    Agradecimentos: Rodrigo Machado (Território Comunicação) e André Deca (Deca Produções)

 

domingo, 7 de maio de 2023

Jorge para sempre Verão – CCBB/DF – em cartaz até 21/05/2023

        Furacão, fenômeno, entidade, a força da figura humana Jorge Lafond pelo olhar peculiar de sua prima Aline Mohamad, em uma homenagem, um resgaste, uma peça de cura, partindo de uma carta póstuma de desculpa. Com direção de Rodrigo França. o espetáculo com muita representatividade preta e lgbtqia+, feito por profissionais pretos, ocupando os espaços, celebrando novos, tão necessários e urgentes caminhos da dramaturgia.


        Contada da perspectiva da dualidade entre Jorge (Alexandre Mitre) e Vera Verão (Joa Assumpção) em diálogo com sua prima (Noemia Oliveira), a peça busca de uma forma não biográfica, mostrar a trajetória e a vivência de Lafond, um pioneiro, uma pessoa que rasgou o cânone da televisão brasileira, tão colonizada e cruel, em uma época que se normalizava a opressão, o preconceito e a hipocrisia em relação a corpos dissidentes. 


        O espetáculo utiliza bastante o recurso audiovisual, trazendo passagens da carreira do artista, entre elas ter sido madrinha de bateria e um triste acontecimento notório, ocorrido com o padre Marcelo Rossi, no programa do Gugu, pouco antes de seu falecimento, que escancarou toda herança colonial homofóbica e racista da TV, na qual foi solicitado que ele se vestisse como homem na presença do religioso celebridade da época, algo que marcou de forma triste e cruel sua caminhada. 


        Lafond foi muito maior que o ÊPA que ecoava nas noites de sábado na distante década de 90; foi um intelectual, formado em teatro, dança afro, balé clássico e educação física, uma pessoa empoderada, bem a frente de seu tempo, que conviveu muitas vezes com o isolamento, o sigilo, a ausência, em face de suas posições firmes e suas escolhas. Hoje é uma referência e um farol, seu legado está em cada pessoa, principalmente as homoafetivas, trans e/ou pretas que hoje estão nas telas ou em um palco, mesmo que essa pessoa não saiba. 


        Como Lafond faz falta e como seria bom que ele tivesse sido homenageado em vida. Na estreia em Brasília, a plateia saiu muito feliz e empolgada com o resultado da obra; de fato é um momento a se celebrar, pela questão representativa, pela força do teatro preto sendo erguido em espaços de poder. Para finalizar, entendo que ainda há espaço para a peça crescer em relação a atuação e energia das cenas, por se tratar de um espetáculo que precisa ter vida longa e atingir o maior número de pessoas, mostrando este legado tão importante.



       Que o legado de Lafond ecoe muito mais que o ÊPA,  o grito de alerta emponderado de Vera Verão, para sempre!


        Ficha técnica: clique aqui

        Instagram da peça: clique aqui

        Fotos: divulgação

        Agradecimento: Rodrigo Machado (Território Comunicação)


        Entrevistas sobre a peça:

        Rádio Band, Pretoteca, Cynthia Martins recebe Rodrigo França e Aretha Sadick

        Band Jornalismo, Juliano Dip recebe Aline Mohamad e Diego do Subúrbio

        Pheno TV com Alexandre Mitre e Aretha Sadick

        Pheeno TV, com Rodrigo França


        Última entrevista de Jorge Lafond: clique aqui

        


quinta-feira, 4 de maio de 2023

Dicas culturais para crianças em Brasília - Maio/2023

Beatles Para Crianças: Beatles Heróis e a Terrível Máquina do Silêncio

06 e 07/05/2023. às 15 horas

Teatro Unip

     Os Beatles Heróis são convocados para impedir que um grupo de vilões mal-humorados usem a ‘Máquina do Silêncio’  para acabar com a diversão. Com versões das canções mais importantes dos Beatles, o espetáculo tem interatividade e muita aventura. A banda criada em 2014 pelos educadores Fabio Freire e Gabriel Manetti que, de uma maneira lúdica e muito bem pensada, têm proporcionado às famílias momentos únicos de diversão, já ultrapassou a marca de 500 apresentações animando crianças e adultos de 60 cidades Brasil afora, com seu repertório.





1º Festival de Teatro Infantil
Teatro da Caesb - Águas Claras
06 e 07/05/2023





Neia e Nando

Shopping Liberty Mall 

06/05/2023 às 17 horas



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