"Num país como o Brasil, manter a esperança viva é um ato revolucionário". Paulo Freire
Feliz é aquele que conheceu as
ideias dos que buscam a conscientização e a libertação dos mais fracos, dos
mais necessitados, dos que proferem palavras de esperança nos momentos mais
sombrios e se tornam imortais e atemporais. Por qual motivo há de se temer tais
preciosidades? Por qual motivo insistem em calar tais vozes que amplificam
vozes que não tem voz? É de se estranhar, de se perguntar: por quê?
Paulo Freire, o Andarilho da
Utopia, é um espetáculo grandioso embora traga simplicidade. É o que o
homenageado e retratado sempre foi e sempre será: um gigante que tinha sua
força na simplicidade. Um homem que falava de amor, que amava gente, gente de
todo tipo. Um homem que amou seu país, que lutou e viveu por seu povo.
Concebida há quase uma década, a
peça percorreu vários caminhos e obstáculos até chegar à montagem em 2019, em
um intenso trabalho de pesquisa, que se iniciou em conversas com a Senhora Ana
Maria Araújo Freire (viúva de Paulo Freire) e teve longos ciclos de criação
coletiva. Com dificuldades de captação e patrocínio, a peça foi montada e
rompeu, assim como o semeador de ideias, as dificuldades para chegar ao coração
do nosso povo.
Em cena, um Paulo Freire vivo,
encarnado por Richard Riguetti, que, com seu talento, carisma e simpatia, em uma
verdadeira aula de teatro no aniversário de seus 40 anos de arte, conquista o
público, que passa a também a integrar a peça em uma troca interessante e leve,
tanto participando de cenas, como cantando em coro, celebrando o amor, em uma
catarse coletiva, lembrando os ensinamentos de Freire que afirmava que nos
educamos em comunhão. Palmas para o trabalho cuidadoso de Luiz Antônio Rocha, que
prima por uma simplicidade com sofisticação para dizer tudo em um palco lúdico
e uma direção precisa sobre o texto criativo e muito bem elaborado de Junio
Santos.
A vida e obra de Paulo Freire,
patrono da nossa educação (http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/17681-paulo-freire-e-declarado-o-patrono-da-educacao-brasileira),
são encenadas em diversas passagens marcantes que vão da infância em Recife, do
horror da ditadura, o exílio, a emocionante Carta de Henfil (http://diocostapalavra.blogspot.com/2007/04/carta-de-henfil-ernesto-geisel.html),
a alfabetização em tempo recorde de colonos em Angicos (http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/04/1-turma-do-metodo-paulo-freire-se-emociona-ao-lembrar-das-aulas.html)
até seus últimos dias (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/03/cotidiano/1.html).
Interessante a busca em Marx como
a chave para entender o sofrimento dos mais pobres e pôr em prática o que
Cristo pregava, nada mais religioso que pensar e lutar pelos oprimidos. A busca
pela utopia que parece não fazer sentido, mas tem a maior função de todas: nos
fazer buscar, nos mover para alcançar. Paulo Freire ensinou, ensina e ensinará
a importância do amor e do respeito. E por isso foi considerado perigoso e subversivo, já
que pensar e ter ideias foi e continua sendo algo altamente arriscado em um
país no qual 57 milhões de pessoas se transformaram em rinocerontes de Ionesco. Além de Ionesco, destaque também para
as referências inteligentes a Brecht, a Galeano, ao Grande Ditador de Chaplin e
a Bob Marley, que trazem reflexão e complementam o espetáculo.
Parabéns para a iniciativa de circulação
da peça nos rincões no nosso Brasil, indo a Angicos, terra do milagre de
Freire, passando vários Estados, sendo apresentado em periferias e em
acampamentos do Movimento Sem Terra (MST), indo onde o povo está, superando todos os obstáculos.
Viva Paulo Freire!!! Quem não se
alimenta dos seus ensinamentos ou não os conhece ou já está morto!!!
“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo
sério, ofendendo a vida, destruindo sonho, inviabilizando o amor. Se a educação
sozinha não transforma a sociedade sem ela tampouco a sociedade muda.”
Paulo Freire, 1997.
Paulo Reglus Neves Freire. Paulo Freire, Freire...
ResponderExcluirSejamos sempre mais... Era o que Freire dizia com olhos que diziam, palavras que enxergavam, com a boca que amava,coração que sorria e abraços que saltavam de seus textos. Afagos na alma...
"Só o poder que nasça da debikidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos. (FREIRE, 2014,p.41).
Seu texto é um afago na alma também.
Educação e Arte sempre serão resistência... Por mais iniciativas como a sua.
Texto impecável.