sábado, 2 de novembro de 2019

Paulo Freire, o Andarilho da Utopia – Teatro dos Bancários – DF



"Num país como o Brasil, manter a esperança viva é um ato revolucionário". Paulo Freire

Feliz é aquele que conheceu as ideias dos que buscam a conscientização e a libertação dos mais fracos, dos mais necessitados, dos que proferem palavras de esperança nos momentos mais sombrios e se tornam imortais e atemporais. Por qual motivo há de se temer tais preciosidades? Por qual motivo insistem em calar tais vozes que amplificam vozes que não tem voz? É de se estranhar, de se perguntar: por quê?


Paulo Freire, o Andarilho da Utopia, é um espetáculo grandioso embora traga simplicidade. É o que o homenageado e retratado sempre foi e sempre será: um gigante que tinha sua força na simplicidade. Um homem que falava de amor, que amava gente, gente de todo tipo. Um homem que amou seu país, que lutou e viveu por seu povo.


Concebida há quase uma década, a peça percorreu vários caminhos e obstáculos até chegar à montagem em 2019, em um intenso trabalho de pesquisa, que se iniciou em conversas com a Senhora Ana Maria Araújo Freire (viúva de Paulo Freire) e teve longos ciclos de criação coletiva. Com dificuldades de captação e patrocínio, a peça foi montada e rompeu, assim como o semeador de ideias, as dificuldades para chegar ao coração do nosso povo.


Em cena, um Paulo Freire vivo, encarnado por Richard Riguetti, que, com seu talento, carisma e simpatia, em uma verdadeira aula de teatro no aniversário de seus 40 anos de arte, conquista o público, que passa a também a integrar a peça em uma troca interessante e leve, tanto participando de cenas, como cantando em coro, celebrando o amor, em uma catarse coletiva, lembrando os ensinamentos de Freire que afirmava que nos educamos em comunhão. Palmas para o trabalho cuidadoso de Luiz Antônio Rocha, que prima por uma simplicidade com sofisticação para dizer tudo em um palco lúdico e uma direção precisa sobre o texto criativo e muito bem elaborado de Junio Santos.


A vida e obra de Paulo Freire, patrono da nossa educação (http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/17681-paulo-freire-e-declarado-o-patrono-da-educacao-brasileira), são encenadas em diversas passagens marcantes que vão da infância em Recife, do horror da ditadura, o exílio, a emocionante Carta de Henfil (http://diocostapalavra.blogspot.com/2007/04/carta-de-henfil-ernesto-geisel.html), a alfabetização em tempo recorde de colonos em Angicos (http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/04/1-turma-do-metodo-paulo-freire-se-emociona-ao-lembrar-das-aulas.html) até seus últimos dias (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/03/cotidiano/1.html).


Interessante a busca em Marx como a chave para entender o sofrimento dos mais pobres e pôr em prática o que Cristo pregava, nada mais religioso que pensar e lutar pelos oprimidos. A busca pela utopia que parece não fazer sentido, mas tem a maior função de todas: nos fazer buscar, nos mover para alcançar. Paulo Freire ensinou, ensina e ensinará a importância do amor e do respeito. E por isso foi considerado perigoso e subversivo, já que pensar e ter ideias foi e continua sendo algo altamente arriscado em um país no qual 57 milhões de pessoas se transformaram em rinocerontes de Ionesco. Além de Ionesco, destaque também para as referências inteligentes a Brecht, a Galeano, ao Grande Ditador de Chaplin e a Bob Marley, que trazem reflexão e complementam o espetáculo.


Parabéns para a iniciativa de circulação da peça nos rincões no nosso Brasil, indo a Angicos, terra do milagre de Freire, passando vários Estados, sendo apresentado em periferias e em acampamentos do Movimento Sem Terra (MST), indo onde o povo está, superando todos os obstáculos.


Viva Paulo Freire!!! Quem não se alimenta dos seus ensinamentos ou não os conhece ou já está morto!!! 


“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, ofendendo a vida, destruindo sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade sem ela tampouco a sociedade muda.” Paulo Freire, 1997.


Fotos: divulgação

Um comentário:

  1. Paulo Reglus Neves Freire. Paulo Freire, Freire...
    Sejamos sempre mais... Era o que Freire dizia com olhos que diziam, palavras que enxergavam, com a boca que amava,coração que sorria e abraços que saltavam de seus textos. Afagos na alma...
    "Só o poder que nasça da debikidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos. (FREIRE, 2014,p.41).

    Seu texto é um afago na alma também.
    Educação e Arte sempre serão resistência... Por mais iniciativas como a sua.
    Texto impecável.

    ResponderExcluir