Multidão plural e diversa para
assistir o espetáculo. Teatro mais que lotado. Cadeiras extras. Representatividade.
Representranstividade. Como isso é importante!
Maria Leo Araruna nos esperando
com arma em punho. Travesti. Apocalipse. Fim dos tempos. Guerrilha sem fim.
Luta eterna de quem sobrevive contra a estupidez e a ocupação de espaço, de quem
quer poder existir como é e não como a norma dita.
O espetáculo é construído em
cenas com uma narrativa não contínua que remetem a preguiça de explicar a preconceituosos
adeptos do burrismo que governa o país e/ou a religiosos cagadores de regras
que ser travesti não é doença nem transtorno mental, que as pessoas devem ser
respeitadas como são e que jamais deixarão de existir, de viver, serem felizes e
buscarem seus sonhos.
A interpretação visceral, raivosa
no bom sentido, com garra, vontade e emoção de Maria Léo nos conduz pela
guerrilha em busca do espaço e da voz necessária à questão trans, saindo do
limbo, do não lugar, destruindo paradigmas em busca de identidade, cidadania e
direitos rumo à ruptura da normatividade que aprisona e assassina as pessoas.
A peça também rememora tragédias
relacionadas à violência contra pessoas trans. Covardias contra Dandara (https://www.metropoles.com/brasil/travesti-e-torturada-e-morta-a-pedradas-em-fortaleza/amp),
Verônica Bolina (https://homofobiamata.wordpress.com/quem-somos-3/repercussao-internacional/transfobia-de-estado/)
entre outras, no país que mais mata transexuais (http://especiais.correiobraziliense.com.br/brasil-lidera-ranking-mundial-de-assassinatos-de-transexuais).
Basta!!!
Destaque para a cena Manifesto
Trav (Eco)-Ciborgue. Baseada em uma pesquisa sobre os textos Medéia, de
Eurípedes e Manifesto Ciborgue, de Donna Haraway (http://ea.fflch.usp.br/obra/manifesto-ciborgue),
a cena faz uma analogia fantástica entre a condição trans e o mito da criatura
ciborgueana, um ser entre o orgânico e a tecnologia. Interessante a abordagem
da questão da artificialidade dos nossos corpos, baseada na classificação em
gêneros que se trata de nada mais que uma construção secular. Quem dita a
norma? Quem faz as regras? Quem classifica? Quem determina o que é natural ou
não? Por que um corpo cis é correto e um corpo trans não é? Essas diferenças
não seriam essa a base da violência transfóbica? De vidas desnecessariamente
perdidas, desperdiçadas.
Parabéns Maria Leo Araruna, Kika Sena
e equipe. Que o eco do traveco ecoe. Como é
belo ver espaços sendo ocupados e vozes ecoando, inclusive na Academia (UNB). Que essa luta traga novos tempos,
com novas consciências, uma nova sociedade rompa desse apocalipse.
Ficha Técnica: clique aqui
Fotos: Janine Moraes - @janinemoraees
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