sábado, 11 de janeiro de 2020

Stanislove-me – Teatro Pandego (DF) – Espaço Cultural Renato Russo – DF


Uma jovem atriz. Uma imensidão de tablado. Luz. Música. Plateia. O banquete antropofágico está para começar. Quem devora quem?


No Palco, Maria (Bruna Martini), uma aspirante à atriz, uma estudiosa das artes cênicas, mostrando tudo que aprendeu. Deslumbrada, orgulhosa, ingênua. Erros e acertos. Coragem e vontade de seguir o ofício teatral. Influenciada por Stanislavski (saiba mais) e Artaud (saiba mais), reprimida por sua mãe, que não quer vê-la sofrer em função da escolha profissional, Maria luta pelo que acredita, mostrando toda a sua fragilidade humana e artística.



Em cena, exercícios teatrais, ensinamentos, referências, técnicas, além de deboche, desobediência, sarcasmo, loucura, seriedade, talento, suor, sangue e entrega. Interessante ver os conflitos entre gerações, os conflitos entre séculos, o conflito entre a atores perante a autoridade de diretores e até mesmo o conflito entre Maria e o Mestre Stanislavski. A qual ousa questionar de forma desafiadora se os ensinamentos do livro A Construção do Personagem (1938) se aplicam no teatro brasileiro nos dias de hoje.



O espetáculo é uma homenagem aos artistas de alma e ao teatro, que brinca de forma séria com as possibilidades, com as questões humanas e artísticas, divertindo, emocionando e fazendo refletir. A peça transita ainda desde belas referências a Dulcina de Moraes, Bibi Ferreira e Fernanda Montenegro, passando por paródias musicais interessantes até o momento trágico que vive nossa sociedade, no qual as igrejas estão proliferando e os teatros sendo fechados e os artistas perseguidos.



A atriz Bruna Martini, dirigida pela renomada Simone Reis, transcende em cena assim como Artaud e não representa, mas atua como ensinou Stanislavski, vivendo de fato a experiência, que conforme prometido, não se repetirá da mesma forma amanhã. Uma desconstrução, na qual se morre para se nascer em cena. Haja talento, pesquisa e entrega, que se materializam no trabalho corporal que hipnotiza o público e o atrai ao já mencionado banquete. A peça recebeu o prêmio de melhor atriz na mostra competitiva do 6º Festival de Teatro Universitário do Rio de Janeiro (2016), deixando claro que Bruna tem um belo e longo caminho profissional a seguir.



Acompanhando Bruna, o músico Chico Mosrri, excelente e preciso, faz a sonoplastia ao vivo e também participa e complementa o caldo antropofágico. Destaque para o prêmio de melhor sonoplastia no Prêmio Sesc do Teatro Candango 2018.


Se o teatro é a arte do encontro e do presente, por qual motivo a luta para manter a chama cênica acesa é tão árdua? A culpa é o teatro ou das pessoas? Se estar presente é um ato de entrega e disponibilidade, ir ao teatro é se doar um pouco. E em uma sociedade que não se doa, isso é uma dificuldade. É bem mais fácil estar em frente a uma tela. Mas as telas jamais vão conseguir chegar na experiência que o teatro é capaz de entregar. Não tocam a alma, nem jamais serão únicas.

Viva o Teatro, seus monstros sagrados, seus artistas de alma e seu público!!!


Ficha técnica: link

Fotos: Divulgação

Agradecimento: Max Lage

Um comentário:

  1. Gostei da forma como ele comentou e a visão de toda narrativa parabéns Rodrigo

    ResponderExcluir