Uma jovem atriz. Uma imensidão de
tablado. Luz. Música. Plateia. O banquete antropofágico está para começar. Quem
devora quem?
No Palco, Maria (Bruna Martini), uma
aspirante à atriz, uma estudiosa das artes cênicas, mostrando tudo que
aprendeu. Deslumbrada, orgulhosa, ingênua. Erros e acertos. Coragem e vontade
de seguir o ofício teatral. Influenciada por Stanislavski (saiba mais) e Artaud (saiba mais),
reprimida por sua mãe, que não quer vê-la sofrer em função da escolha
profissional, Maria luta pelo que acredita, mostrando toda a sua fragilidade
humana e artística.
Em cena, exercícios teatrais, ensinamentos, referências, técnicas, além de deboche, desobediência, sarcasmo, loucura, seriedade, talento, suor, sangue e entrega. Interessante ver os conflitos entre gerações, os conflitos entre séculos, o conflito entre a atores perante a autoridade de diretores e até mesmo o conflito entre Maria e o Mestre Stanislavski. A qual ousa questionar de forma desafiadora se os ensinamentos do livro A Construção do Personagem (1938) se aplicam no teatro brasileiro nos dias de hoje.
O espetáculo é uma homenagem aos artistas
de alma e ao teatro, que brinca de forma séria com as possibilidades, com as
questões humanas e artísticas, divertindo, emocionando e fazendo refletir. A
peça transita ainda desde belas referências a Dulcina de Moraes, Bibi Ferreira e
Fernanda Montenegro, passando por paródias musicais interessantes até o momento
trágico que vive nossa sociedade, no qual as igrejas estão proliferando e os
teatros sendo fechados e os artistas perseguidos.
A atriz Bruna Martini, dirigida
pela renomada Simone Reis, transcende em cena assim como Artaud e não representa, mas
atua como ensinou Stanislavski, vivendo de fato a experiência, que conforme
prometido, não se repetirá da mesma forma amanhã. Uma desconstrução, na qual se
morre para se nascer em cena. Haja talento, pesquisa e entrega, que se
materializam no trabalho corporal que hipnotiza o público e o atrai ao já
mencionado banquete. A peça recebeu o prêmio de melhor atriz na mostra
competitiva do 6º Festival de Teatro Universitário do Rio de Janeiro (2016),
deixando claro que Bruna tem um belo e longo caminho profissional a seguir.
Acompanhando Bruna, o músico
Chico Mosrri, excelente e preciso, faz a sonoplastia ao vivo e também participa e complementa o caldo antropofágico. Destaque para o prêmio de melhor sonoplastia no Prêmio
Sesc do Teatro Candango 2018.
Se o
teatro é a arte do encontro e do presente, por qual motivo a luta para manter a
chama cênica acesa é tão árdua? A culpa é o teatro ou das pessoas? Se estar
presente é um ato de entrega e disponibilidade, ir ao teatro é se doar um
pouco. E em uma sociedade que não se doa, isso é uma dificuldade. É bem mais
fácil estar em frente a uma tela. Mas as telas jamais vão conseguir chegar na
experiência que o teatro é capaz de entregar. Não tocam a alma, nem jamais serão únicas.
Viva o Teatro, seus monstros sagrados, seus artistas de alma e seu público!!!
Ficha técnica: link
Fotos: Divulgação
Agradecimento: Max Lage
Gostei da forma como ele comentou e a visão de toda narrativa parabéns Rodrigo
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