sábado, 4 de janeiro de 2020

Vamos Comprar um Poeta (RJ) – CCBB-DF


Premiado Musical infantojuvenil que encerra a trilogia “Três Histórias de Amor para Crianças”, composta por “A Gaiola” e “Contos Partidos de Amor”, “Vamos Comprar um Poeta” é um belo manifesto e uma homenagem à Cultura.

A criação é arte.



Adaptada do livro homônimo do escritor luso Afonso Cruz, que o escreveu em um momento de grave crise em Portugal, traz ao palco a importância da arte em uma sociedade cartesiana, que está perdendo a sensibilidade em meio a números, percentuais, planilhas, algoritmos, imersa em relações superficiais.

Como em um livro tão pequeno pode estar falando tão grande?



Vistos com desconfiança, os artistas, chamados de inutilistas, são vendidos em uma liquidação. Dentre os objetos à venda, um poeta. Que dois irmãos insistem em levá-lo para casa, contra a vontade dos pais. Aos poucos, a convivência com o poeta afeta a todos, trazendo àquela sociedade o mundo lúdico, a criação, a poesia e a arte, em um choque no qual ninguém permanecerá como antes.

O artista é você.



Os atores Letícia Medella, Luan Vieira e Sergio Kauffmann estão em uma sinergia e uma naturalidade tamanha que fazem as cenas funcionarem de forma orgânica. O trabalho corporal baseado em pesquisa e visível dedicação é muito bem feito, uma verdadeira dramaturgia do corpo dirigida por Duda Maia em cima da interessante adaptação textual de Clarice Lissovsky. A trilha sonora de Ricco Viana linda e poética, complementando a imersão das cenas, me fez cantarolar alegremente enquanto escrevia.

Temos milhas a percorrer antes de dormir.


 “Vamos Comprar um Poeta” é um espetáculo que emociona e faz refletir sobre a importância da arte no cotidiano e revela que, em tempos sombrios como o nosso, a arte, que é a primeira a sofrer cortes e ataques, será a primeira a nos iluminar na escuridão. Cada luz que se acende quando o poeta que nos habita aparece é um farol, tanto no palco, quanto na vida. É a cultura que abre as janelas da nossa mente. Precisamos relembrar e reafirmar sempre o valor da cultura. Quem acha cultura cara para um país, não conhece o custo da ignorância.

Será que a cultura te ameaça?


Agradecimentos: Rodrigo Machado, Ana Celina e Bruno Mariozz

Fotos: Renato Mangolin

2 comentários: